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Governar para si mesmo

 

Entre as muitas coisas que não entendo (na realidade, cada vez entendo menos de tudo) estão as previsões e análises eleitorais dos entendidos na matéria, os profissionais da política, os cientistas políticos e os colunistas especializados no assunto.


Impressionante como, pelos resultados da eleição para prefeitos e vereadores, eles tiram conclusões e certezas para as eleições presidenciais de 2006. Dão a impressão de que consideram a política em geral, e o episódio eleitoral em particular, como uma ciência exata, igual à matemática, à geometria e disciplinas afins.


Duas semanas são bastantes para alterar um quadro sucessório. Dois anos são uma enormidade de imprevistos, acidentes de percurso, mudanças de ventos e necessidades. É evidente que a disputa na capital de São Paulo, entre os dois partidos que mais se destacaram no último dia 3, terá influência nos próximos passos da política nacional, com o PSDB e o PT atraindo mais adeptos e criando condições mais favoráveis para seus projetos de poder.


Dificilmente surgirá um candidato messiânico e inesperado, fora do cenário partidário mais corriqueiro, com a predominância dos dois partidos acima citados e, correndo por fora, o PMDB e o PFL. Mas as fusões, transfusões e confusões são tais e tantas que tudo pode acontecer.


E, além dos movimentos internos de cada partido, a realidade nacional e internacional será levada em conta na hora de a onça beber água. Em linhas gerais, acho que a reeleição de Lula será a determinante para a próxima sucessão presidencial. Se formar e conseguir manter uma base aliada maior e mais forte do que a atual, ele terá chance de um novo mandato.


Para garantir a permanência no poder, será obrigado a esquecer o governo da nação e se dedicar, em tempo integral, a fazer política, barganhar, comprar e vender, ou seja, governar para si mesmo e para os seus.




Folha de São Paulo (São Paulo) 14/10/2004

Folha de São Paulo (São Paulo), 14/10/2004