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Lula e os leões

 

Não tenho certeza, mas acho que entre as leituras de Lula ao longo da vida, está o "Tartarin de Tarascon", de Alphonse Daudet, uma das obras-primas que até hoje me encanta quando estou triste, triste de não ter jeito.


Tartarin era temido, temido e famoso em Tarascon, pela sua coragem e pelas suas caçadas. Fazia parte do Clube dos Caçadores e, cansado de caçar passarinhos, coelhos e perdizes, declarou-se entediado, proclamou que iria caçar leões em África. O rei dos caçadores enfrentaria, cara a cara, os reis dos animais, enfrentando-os no próprio habitat, em campo adverso.


Passou o tempo, Tartarin encomendou um arsenal de caça, uma tenda de campanha que provocou pasmos, muniu-se de mapas, bússolas e roupas especiais para desentocar os leões em suas covas. O tempo continuou passando, no Clube dos Caçadores, todas as noites, o assunto eram os leões que Tartarin caçaria, leões que rugiam em suas covas, sem saber que seus dias estavam contados, o temível Tartarin estava a caminho.


Passaram-se novamente muitos sóis e luas, e Tartarin não partia. Até que no Clube dos Caçadores, sem ninguém combinar nada, houve um consenso: Tartarin já partira, já caçara muitos leões, e todos comentavam a valentia e a arte de Tartarin em caçar leões. O próprio Tartarin, após algumas hesitações, acreditou que fora à África, caçara muitos leões; à noite, na taba, contava como pegara um a um os leões mais ferozes da África.


A anunciada reforma ministerial de Lula tem espantosa coincidência com os leões caçados por Tartarin. Desde o seu primeiro dia de governo, no clube dos caçadores de notícias, anuncia-se a formidável expedição de Lula às covas onde estão tocaiadas as grandes feras da selva política.


Passaram-se dias, semanas e meses. Até que todos começam a admitir que a reforma já foi feita. E Lula é o primeiro a acreditar na sua mais assombrosa façanha.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 16/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 16/03/2005