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Os direitos do galo

 

Se tinha dúvidas, elas acabaram. Sempre me considerei um ignorante, que nada sabia de nada, mas vez por outra, como ser humano sujeito aos mil acidentes da carne, tinha a veleidade de achar que não era bem assim, talvez soubesse alguma coisa, nada de importante, como o todo é maior do que a parte e quem parte leva saudade de alguém.


Vai daí, fiquei sabendo que o Brasil inteiro sabia que o marqueteiro oficial do governo é vidrado em brigas de galo. Honestamente, eu não sabia. Mais uma vez, vi escancarada a minha insistência em nada saber de nada, nem mesmo de fato tão transcendental.


Não sei por que, talvez entranhada simpatia que tenho pelo presidente Lula, pelo seu jeitão de ser e agir, acho que ele também deve gostar de brigas de galo, como gosta de frango com polenta e do Zeca Pagodinho.


Dificilmente acharei um nexo entre os galos que brigam e o prato de sustância que parece ser o preferido do presidente da República. Tampouco com o cantor que supre as suas necessidades estéticas e ao qual ele recorre quando precisa de enlevo artístico e amplidão espiritual.


De qualquer forma, sempre desconfio de fatos assim, quando se entra na reta final de eleições. A presteza com que a Polícia Federal age em determinados casos é suspeita. O tráfico de armas e drogas continua deitando e rolando, as falanges da PF nem estão aí. Como estão, na hora e nas locações certas, quando se trata de criar um fato que comprometa um candidato, ainda que obliquamente, ou preventivamente.


Foi o caso daquela batida em cima de Roseana Sarney, quando ela despontava como possível aspirante à campanha presidencial. Se o Brasil inteiro sabia das brigas de galo que tanto fascinam o assessor presidencial (o único que não sabia é quem vos escreve), fica a pergunta: desde quando a Polícia Federal defende os direitos humanos dos galos?


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 25/10/2004

Folha de São Paulo (São Paulo), 25/10/2004