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FHC, Delfim e Lula

 

Semana passada, comentei a troca de críticas entre Lula e FHC, que não chega a ser ainda briga nem um rompimento formal. Sugeri que se desse um pau a cada um e que eles decidissem as divergências numa arena pública e com narração isenta do Galvão Bueno.


Como sempre acontece, não fui devidamente ouvido nem cheirado e as farpas de lado a lado continuam. Usando a mídia -que sempre abre espaço para ele-, no último sábado, FHC advertiu para aquilo que um jornal colocou entre aspas: "dose exagerada" na economia.


Esta dose exagerada é exatamente a jóia principal da coroa que o governo de FHC passou para a cabeça nordestina de Lula, mudando apenas de nome: para FHC, foi mesmo uma coroa recheada de diamantes, feérica como a da rainha da Inglaterra.


Para Lula, a coroa nada mais representa do que uma "herança maldita" -e bota maldita nisso. Quem deslocou o eixo da vida nacional para a economia foi o próprio FHC e sua equipe econômica, que recebeu loas e arcos do triunfo do capital internacional, notadamente do FMI.


Durante a última campanha eleitoral -e nas anteriores- Lula e o PT elegeram como saco de pancada, bode expiatório, demônio preferencial a exorcizar, a "dose exagerada" que FHC legou para ele, agora reclamando da herança que lhe deixou.


Bem verdade que, dentro da maldição da herança, Lula vem obtendo resultados melhores do que FHC, e até agora com menos escândalos, só os inevitáveis.


Outro dia, vi o ex-ministro Delfim Neto num brilhante documentário da TV, lembrando placidamente, e sem atentar contra a verdade dos fatos, que no tempo dele (governo Médici), a economia chegou a crescer em média 11% ao ano, com piques de 14%, creio que um recorde mundial.


Deus é testemunha do quanto admiro Delfim Neto pela sua inteligência e capacidade técnica. Mas não queria que nem ele, nem FHC nem principalmente Lula crescessem tanto ao preço que todos pagamos no passado e estamos pagando no presente.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 17/03/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 17/03/2005