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O coreto eleitoral

 

Com a habitual ignorância dos fatos políticos, ouso comentar as eleições para prefeito do último domingo. Tudo bem. Acho que não houve surpresas. Em linhas gerais, as pesquisas do eleitorado foram confirmadas, com três pontos para mais ou para menos, conforme é de praxe.


Sem contestar pesquisas e resultados, dentro do tradicional espírito de porco que me acompanha desde criancinha, discordo da quase totalidade das análises feitas pelos entendidos, que creditam vitórias e derrotas aos partidos.


Como não temos partidos para valer, fico na minha. Quem ganhou ou perdeu o fez por conta própria, por mérito ou demérito próprio. No Brasil, vota-se na cara e na coragem, ou pela biografia dos candidatos, nem sempre por suas idéias e muito menos pelo seu partido. Com as exceções também de praxe.


No caso de São Paulo, por exemplo, não foi Serra quem ganhou e muito menos o PSDB. Foi Marta que perdeu. E, como bem disse Tereza Cruvinel, perdeu por ter continuado sendo a Marta, não a boa prefeita que foi, mas a Marta que não deixou de ser a Marta desvinculada de seu cargo público.


Preferiu ser ela mesma, assumindo conscientemente sua vida pessoal, quando poderia, dentro da hipocrisia social e política a que estamos habituados, bancar a vestal que nunca foi nem pretende ser.


Mérito também para o Zé Serra, independente de seu partido. Sua obstinação pela política é comovente, vem desde os tempos de estudante. E, desprezando os erros pontuais a que todos estamos sujeitos, mostra-se coerente nas idéias e honesto em sua caminhada.


É evidente que na próxima sucessão presidencial teremos o grande clássico PT x PSDB com seus respectivos aliados. Mas um fato novo, ou uma cara nova, e sobretudo fatos novos bagunçarão o coreto eleitoral e é possível que venham novidades. Que, aliás, estão tardando.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 03/11/2004

Folha de São Paulo (São Paulo), 03/11/2004