Quem melhor soube jogar com os ministérios e seus titulares, até hoje, ao menos na República, em que as demissões são da alçada do presidente, quem se saiu melhor foi Getúlio Vargas.
Daí o famoso artigo de Assis Chateaubriand, O Monstro , tendo Vargas como personagem principal. Vargas simplesmente criou um cemitério de ministros e punha e dispunha dos enterrados e vivificados, segundo os interesses do bruxo de São Borja.
O cemitério de Vargas ficou famoso e nenhum dos ministros enterrados clamou por justiça, nem lutou para ficar vivo, distante da tumba de Vargas. O bruxo de São Borja sabia como manipular as ambições e o fazia com rara habilidade, ganhando até mesmo o reconhecimento do enterrado ou desenterrado.
Prova o cemitério de Vargas ainda hoje, para quem quer fazer política indo à História, que o bruxo Getúlio Vargas, entre duas baforadas de seu rico charuto, sabia como se desfazer de ministros, sem choro e vela do punido. Foi por isso que teve, sempre, a solidariedade de seus colaboradores.
Getúlio Vargas teve numerosos ministros, mas alguns ficaram durante todo o seu tempo de governo, como, por exemplo, Dutra, Capanema, Alexandre Marcondes, autor da CLT, viva até hoje, embora o próprio antigo ministro, quando no fim da vida comentava que sua obra deveria ser reformada por imposição dos anos de vigência.
Esses ministros e outros que acompanharam Vargas, inclusive o famoso Francisco Campos, Chico Ciência , um mineiro forrado de erudição e de defeituoso estilo literário. Mas todos trabalhavam para Vargas como para um grão senhor e suportavam o ostracismo por saberem que tinham sempre a oportunidade de voltar a ser, portanto, exumado do famoso cemitério de Vargas.
Outro que substituiu ministros foi Juscelino, mas com tal habilidade e tal empatia que ninguém nunca se azedou com o presidente. Reconhecemos que é uma dificuldade, sobretudo para Luís Inácio Lula da Silva, que começou o governo nomeando 36 titulares, para ir, aos poucos, reduzindo o staff .
O inexperiente Lula, bom comunicador e presidente compatível com o baixo clero. O inexperiente outrora pau-de-arara está em palpos de aranha, para satisfazer a todos os companheiros e amigos, e mesmo alguns distantes do Planalto. Mas o ex-torneiro mecânico sabe como usar as ferramentas de seu velho ofício e sair-se-á bem, mesmo porque todos aspiram a um ministério, em outra reforma. Por enquanto ficamos por aqui.
Diário do Comércio (São Paulo) 29/03/2005