Faz alguns anos a editora Agir, do Rio de Janeiro, publicou precioso livro, de tamanho similar a maioria dos livros editados no Brasil. Esse livro tinha por título o mesmo título deste artigo. Tratava da educação do príncipe, para que ele, ao chegar o dia de assumir o trono e o governo, acima da administração, obra de seus ministros e da burocracia categorizada por ensino prévio, saiba como se conduzir no exercício de suas funções.
Pode-se dizer que todas as casas reinantes se preocupam com a educação do príncipe. A figura principal nessa educação é o preceptor. Em tempos passados, menos complexos do que os de hoje, o preceptor agia sozinho. Era uma espécie modernizada de Pico della Mirandola de proporções reduzidas, que era contratado para ensinar os jovens, um dos quais seria, no futuro. Chefe de Estado e continuador da dinastia no poder. Não se pode dizer nada contra esse sistema de educação, embora William, o príncipe herdeiro da Inglaterra, esteja cursando faculdade numa das universidades de seu país.
Preceptor ou preceptores, se o príncipe, como o jovem William da Inglaterra, não for para uma universidade privar com seus colegas de estudo e conhecer a mentalidade de uma geração acima da qual ele será colocado pela hereditariedade, que, segundo o grande Chestertin, é a democracia dos mortos, para ele a única democracia que merece esse nome, pois somam milhões de passado no poder. Por isso, o preceptor ou preceptores têm de ser múltiplos nas atribuições que lhes são cometidas.
A democracia tem suas virtudes. Mas, como acentuou Rui Barbosa, em trecho de um prefácio por mim várias vezes citado, as massas nem sempre esclarecidas ou geralmente mal esclarecidas acabam votando em quem não merece o voto ou compromete desde logo o governo com um candidato que, se eleito, não vai corresponder aos que nele votaram e, mais ainda, os que nele não votaram.
Esse o problema dos regimes democráticos, pois são várias as suas modalidades. Daí, a educação do príncipe ser uma fonte de ensino que prepara o futuro chefe de Estado. É o que penso.
Diário do Comércio (Rio de Janeiro) 01/02/2005