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Eleições no Iraque

 

Está instituído no espírito das massas, desta civilização de massas em que nos encontramos, que os chefes de Estado ou de governo devem ser eleitos. O povo quer votar.


Não adianta um grande escritor, como Chesterton, afirmar que a tradição é a democracia dos mortos, e que suas escolhas devem ser acatadas. Se há uma oportunidade, o povo comparece à seção eleitoral e vota em nome que lhe ficou na cabeça e na preferência. É uma das formas de democracia, a democracia do voto; uma pessoa, um voto.


Essa prova foi feita no penúltimo domingo no Iraque, onde durante anos o ditador criminoso Saddam Hussein governou à maneira soviética. A eleição era uma pantomima, sem nenhum valor político. O tirano Saddam foi um horrível sanguinário. Tudo o que contava no Iraque, ao tempo de Saddam, era mais do que sabido, pois no bazar, o souck árabe, o jornal é substituído pelo comentário, de ouvido para ouvido, e sabido o que ocorreu no palácio presidencial.


A facção de Saddam ainda não desapareceu; com a guerra, ao contrário, ela se mostra resistente, sem que se vislumbre um amortecimento no partidarismo formado pelo ditador, durante os seus anos de domínio absoluto da opinião pública do Iraque, opinião que, de resto, nem havia, nem podia se manifestar.


A Saddam nunca ocorreu que ele poderia ser deposto. Foi preciso uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque para limpar o país.


Limpo de todo ele não ficou, pois o terrorismo de Saddam não desapareceu. Bem organizado com criminosos de aluguel, e outros de adesão, praticam atos de perseguição, de morte, de crimes violentos, como o que foi objeto de uma decapitação ignóbil e denunciadora do espírito do grupo que a praticou.


Mas o povo foi votar, e votou. As fotografias dos jornais e os flagrantes da televisão dão a medida do que se passou no dia da eleição, o povo enfrentando os terroristas e criminosos oficiais ou do tempo de Saddam. Uma vitória da democracia eleitoral.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 04/02/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 04/02/2005