Um estudante pediu a um mestre sufi que lhe revelasse o quinto nome de Deus.
- Quem conhece este nome, é capaz de mudar a História - comentou. O mestre pediu que ele passasse um dia inteiro na porta da cidade.
O rapaz voltou no dia seguinte.
- O que viu? - perguntou o mestre.
- Um velho tentou entrar na cidade com um carneiro para vender. O guarda cobrou o imposto, mas o homem não tinha dinheiro. Então o guarda roubou-lhe o carneiro e expulsou-o. Eu pensava: se soubesse o nome oculto de Deus, seria capaz de modificar esta situação.
- Você poderia ter impedido esta injustiça, mas preferiu ficar sonhando com uma revelação. Que tolice! Pois bem, vou revelar-lhe o quinto nome de Deus: ação em favor dos outros. Só assim podemos mudar a História.
Não quero ofendê-Lo (tradição islâmica)
Durante sua peregrinação a Meca, um homem santo começou a sentir a presença de Deus. No meio de um transe, ajoelhou-se, escondeu o rosto e rezou:
- Senhor, quero pedir apenas uma coisa na minha vida: que eu tenha a graça de jamais ofendê-Lo.
- Não posso conceder esta graça - respondeu o Todo-Poderoso. Se você não me ofender, não terei motivos para perdoá-lo. Se eu não preciso perdoá-lo, você em breve esquecerá também a importância da misericórdia para com os outros. Por isso, continue o seu caminho com Amor, e deixe-me praticar o perdão de vez em quando, para que você também não se esqueça desta virtude.
Alunos e professores (tradição sufi)
Nasrudin - o eterno personagem das lendas sufi - estava na soleira de sua porta, quando viu passar um professor com seus alunos.
- Onde vão? - perguntou.
- Rezar para que Deus acabe com a corrupção, já que Ele sempre escuta a prece das crianças - respondeu o professor.
- Uma boa educação já teria acabado com isso. Ensine os meninos a serem mais responsáveis do que seus pais e tios.
O professor ofendeu-se:
- Eis um exemplo de falta de fé! A prece das crianças pode mudar tudo!
- Deus escuta qualquer um que reza. Se Ele só escutasse as preces das crianças, não haveria uma só escola no país; não há nada que elas detestem tanto quanto um professor.
Encontrei um violinista (tradição hassídica)
Um discípulo se aproximou do rabino Moshé Haim:
- Hoje encontrei um homem que riu e desprezou meus esforços na busca espiritual.
- Hoje encontrei um violinista - respondeu o rabino. - Ele tocava tão inspirado por Deus, que todos os que se aproximavam dele terminavam por cantar e dançar. Eu fiz o mesmo e estava louvando a Criação com minha alegria, quando vi que se aproximava um surdo. Ele ficou olhando o violinista e o público que dançava. No final, comentou em voz alta: “como é indecente e grotesca a agitação deste bando de loucos!”
E concluiu Moshé Haim:
- Quem não sabe escutar a música de Deus, só tem como saída considerá-la inútil.
O Globo (Rio de Janeiro) 28/11/2004