O médico Drauzio Varella, que se tornou um dos maiores escritores do nosso tempo, após publicar livros e artigos sobre a saúde e sobre os doentes, ele próprio caiu doente, se não me engano com uma das formas de hepatite.
Antes de mais nada, desejo-lhe pronto e completo restabelecimento para que ele possa continuar, em livros e artigos na imprensa, suas sábias lições de saúde e conselhos para a qualidade de vida.
Falo nele para falar mais e melhor sobre o bate-boca entre Lula e FHC, presidente e ex, que estão se estranhando de forma ainda civilizada, uma preliminar, um "hors d'oeuvre" da próxima sucessão presidencial.
Quando presidente, FHC sofreu o diabo de Lula e do PT, que estavam na oposição. Nada demais que Lula, agora governo, sofra o equivalente de quem está na oposição.
Pergunta: quem tem razão? Respondo: nenhum dos dois. Os governos de um e de outro podem ser diferentes nos acidentes, mas a substância é a mesma. O chassi das duas gestões é o mesmo: a prioridade do econômico sobre o social, a submissão ao Consenso de Washington e a seu guichê mais importante, que é o FMI.
O cronista criticou asperamente FHC durante os oito anos de seu mandato e é grato a ele: dava-me assunto quando não o tinha -o que é freqüente para os meus lados. O ex-presidente funcionava como o Bei de Túnis para o Eça de Queiroz. Quando não tinha assunto, Eça esculhambava o Bei, inventando atos e fatos que atribuía ao potentado oriental. No caso de FHC, eu não precisava inventar nada: ele fazia por onde.
Da mesma forma que Lula faz por onde e nada mais natural que FHC o critique e que muitos também o critiquem, inclusive o cronista. Tanto o PT como Lula se defendem lembrando os erros de FHC, que ganharam o genérico nome de herança maldita.
Mas voltemos ao caso do Drauzio Varella. Um médico doente pode dar bons conselhos de saúde a quem dela precisa. E o governo Lula está precisando.
Folha de São Paulo (São Paulo) 09/12/2004