Sabemos que se lê pouco em nosso País. Menos de dois livros por habitante. Não se diga que a causa está no alto índice de analfabetos. Não é mais assim. Temos 16 milhões de analfabetos, número decrescente, embora seja altamente expressiva a quantidade de semi-alfabetizados.
Entre as causas objetivas, podemos citar o alto preço dos livros. São caros, de modo geral. Outro fato é a ausência do gosto pela leitura desde cedo. Quando isso ocorre na idade adulta é tudo mais difícil. O fenômeno é o mesmo que acontece quando deixamos para aprender uma língua estrangeira moderna (francês, inglês ou espanhol) depois dos 18 anos. As inibições tornam a operação bem mais complicada.
Quem comparece a um dos eventos tipo Bienal do Livro ou Festival de Paraty verifica que a visitação é espetacular, mas as vendas não acompanham o fenômeno. Vê-se muito e compra-se pouco, sobretudo no seio da garotada. Falta de dinheiro, livros caros, tudo se mistura para criar restrições aos bons resultados, como ocorre em outros países do mundo. É sabido que não se nasce leitor. O escritor e acadêmico Ariano Suassuna ensina que devemos ser "quixotescos", sobretudo quando se sabe que a leitura renova as idéias.
Maneiras de ser feliz
Vale a pena lembrar a escritora Clarice Lispector, com quem tive o privilégio de conviver, na redação da revista "Manchete": "Há duas maneiras de ser feliz: descobrindo o mundo ou lendo livros." E isso não se faz de modo silencioso, mas se possível ruidoso.
Enquanto se estabelece esse tipo de discussão, Umberto Eco entra no tema, que é muito seu, para reclamar do alto preço dos livros, de um tema quase universal. Preocupado com o avanço do emprego dos computadores, na rede internacional representada pela Internet, apresenta uma idéia à altura do seu talento: por que não apresentar os livros todos em preto e branco, sem ilustração, a fim de baratear os seus custos? Especialmente os livros didáticos.
Quem desejasse usufruir as vantagens das cores, procuraria o complemento na Internet, o que sairia muito mais barato. Ter-se-ia assim uma nova combinação de tecnologias, partindo do princípio de que os alunos que não tivessem a Internet em casa (a maioria) se valeriam dos equipamentos nas escolas, mesmo públicas, que crescem na oferta desse benefício. Aliás, o Governo federal promete ampliar enormemente a presença da Internet nas escolas públicas brasileiras, hoje em número superior a 200 mil nas nossas 27 unidades da Federação.
Ao dar posse ao Conselho Estadual de Leitura, no Rio de Janeiro, presente a escritora e acadêmica Ana Maria Machado, sentimos os seus movimentos de aprovação quando referimos à eternidade do livro.
A partir de Gutemberg - e com a edição da Bíblia - os livros vieram para ficar, num exemplo único de força cultural. O que se deve é valorizar a sua elaboração, aperfeiçoar o seu conteúdo, tornar mais agradável a sua leitura - e assim garantir o seu lugar insubstituível. Se é assim em outros países, por que não poderá ser aqui no Brasil?
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 1/1/2006