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Ação e reação

 

Nunca tivemos um presidente que falasse tanto e tamanhamente como Lula. E que tanto e tamanhamente reclamasse da mídia pelas críticas e boicote que alega estar sofrendo. Diz, repete à exaustão, que tudo está no melhor dos mundos, garante que dará futuro paradisíaco ao Brasil e que nunca na história houve um governo tão eficaz, de tanta ação benéfica como o dele.

Seguindo as linhas do seu fundador e mestre, o PT sadio, aquele que não participou da lambança, declara-se perplexo e até mesmo indignado com o mau tratamento que vem recebendo da mídia. Em tempos outros e recentes, o partido era o queridinho da mídia, podia-se tudo nas redações, menos criticar o PT.


Quem se atrevesse a duvidar que o partido era a solução ideal e final para tudo, economia, artes, política, era um degenerado, vendido ao capital selvagem, à corrupção que desgraçava o povo e a nação. O PT, incensado pela mídia furiosa de então, tornara-se a vestal absoluta, guardiã da ética - não se falava em moral porque a moral caiu em desgraça devido aos moralistas. Os petistas, em geral, tornaram-se éticos e ficarão éticos até que os éticos fiquem na mesma vala dos moralistas.


Este tempo passou, são muitos e sinceros os petistas, que apesar de reconhecerem e condenarem a lambança feita pela cúpula do partido e do governo, reclamam da conspiração da mídia que decidiu detonar o PT, financiada pelos tradicionais fantasmas do conservadorismo, do patronato sem escrúpulos, dos agentes do mal em todas as suas manifestações.


Como encarnação individual e radical do partido, Lula é o primeiro a reclamar de tudo isso, colocando-se na trincheira de uma oposição que não é mais contra a situação em si, mas em nome da herança eleitoral que viabilizou sua chegada ao poder.


Além do mais, a situação agora é ele e o PT. O reacionário é ele e o seu partido.




Folha de São Paulo (São Paulo) 4/1/2006