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Mudanças ideológicas

 

É preciso remontar ao passado recente para articular uma tese que me parece insuscetível de contestação, a do encerramento do ciclo socialista, altamente sedutor durante o Século XIX e grande parte do Século XX, e a ascensão do ciclo liberal; ou como prefere dizer o Professor Miguel Reale, do social-liberalismo, como ideologia recorrente do mundo contemporâneo, que demonstra não se apegar a fórmulas peremptas, ainda que atraentes.


Reconheço que no Chile foi eleita a presidente Michelle Bachelet, mulher do partido de esquerda, mas suas declarações à imprensa, partindo de um país com tradições socialistas já adultas, levam a pensar em novos tempos que se abrem para a economia na sua expressão de desenvolvimento, para o bem dos povos, contra os axiomas racionalistas que prevaleceram no passado.


Lendo os termos da entrevista da presidente do Chile e as declarações do novo presidente da Bolívia, além de outras manifestações no mesmo sentido em diversos países, vê-se que estamos a caminho de uma ampla liberdade econômica, que se desvincula definitivamente - é de se esperar - de velhos influxos retóricos já fanados pelo tempo.


Não hesito em afirmar que estamos na linha de mudanças inesperadas, que irão de encontro às aspirações dos povos, que tanto sofreram com ideologias sem vínculo com a realidade comprovada e sem possibilidade de comprovação. É viável, portanto, pressupor-se que se abre uma Era nova ou renovada, aproveitando velhas lutas pela concepção da liberdade e não como um atrelamento desse dado superior do espírito humano às crenças sem base. Partimos para uma época separada dos preconceitos ideológicos, mas integrada ao realismo na natureza humana e nas suas aspirações multisseculares. Direi mesmo que essas mudanças ideológicas correspondem ao realismo tomista.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 23/1/2006