Um britânico descobriu que sua namorada tinha um amante graças às indiscrições de seu papagaio. Chris Taylor, de 30 anos, um programador de computadores de Leeds, contou que, a cada vez que o telefone celular de sua namorada, Suzy Collins, tocava, Ziggy, o papagaio, dizia: "Oi, Gary". A princípio, ele pensou que Ziggy, emérito imitador, havia aprendido a frase pela TV. Suzy negava conhecer algum Gary, e Taylor não suspeitou de nada nem mesmo quando o pássaro começou a imitar o barulho de beijos ao escutar a palavra "Gary" no rádio ou na TV. Uma noite em que Taylor e Suzy beijavam-se no sofá, o pássaro disse, numa voz idêntica à da moça: "Eu te amo, Gary". Suzy confessou então que estava tendo um caso com um ex-colega chamado Gary. À mídia, ela declarou que a relação com Taylor não ia bem: "Ele passava mais tempo falando com o papagaio do que comigo". Taylor acabou vendendo Ziggy para uma loja de animais de estimação. Isso porque o programador de computadores não conseguiu desprogramar o papagaio do hábito de dizer, imitando sua ex-namorada, o nome do sujeito que foi o pivô do fim do romance.
Folha Online, 17 de janeiro de 2006
Ah, Ziggy, Ziggy. Viu o que você foi fazer? Como muitas pessoas, Ziggy, você repete bem aquilo que ouve, mas você não pensa no que diz. Ali estava você, com o Taylor, um dono exemplar, um dono que lhe adorava, tanto que preferia falar com você a falar com a namorada, Suzy. Ela, aliás, se queixava disso, e lá pelas tantas começou a ter um caso com um ex-colega. Sim, tratava-se de infidelidade, coisa condenável, mas de alguma maneira o arranjo funcionava; em termos de bigamia, a Suzy saía-se bem. Só que ela não contava com a sua indiscrição, Ziggy.
Você logo aprendeu o nome do namorado secreto dela. Coisa que aliás não deve ter sido difícil: "Gary", isto é fácil de pronunciar. E é também um nome comum, tanto que o Taylor pensou que você estava repetindo o que ouvia na televisão. Mas aí você foi mais longe, Ziggy. Você aprendeu também a imitar o som de beijos, e, beijando, você dizia, imitando a voz da Suzy: "Eu te amo, Gary". Mesmo um cara desligado como o Taylor acabaria se dando conta de que algo estava acontecendo. Lá pelas tantas ele rompeu com a moça.
Apesar disso, você continuava falando no Gary e na Suzy. Você praticamente obrigou o pobre Taylor a vender você para uma loja de bichos de estimação (duvido que a esta altura você ainda se enquadrasse, ao menos para ele, na categoria de bichos de estimação). Quer dizer: o Taylor acabou sozinho. Foi a sua última bobagem, Ziggy. A última do papagaio.
Uma pergunta se impõe, Ziggy: por que é que você fez isso? Você queria alertar o Taylor? Você queria debochar dele? Ou será que você estava apaixonado pela Suzy e queria se exibir para ela?
Mistério, Ziggy. Mistério. Temos de confessar: a alma dos papagaios continua sendo, para nós, humanos, território desconhecido. Se houvesse um psicanalista de aves, talvez o enigma fosse decifrado. Difícil, porém: você ficaria repetindo todas as interpretações do terapeuta.
Mas a gente pode dar um conselho a você, Ziggy. Se você puder fugir da gaiola, atravesse o Atlântico voando e venha para o Brasil. Aqui você se transformará num personagem de anedota. Ninguém levará você a sério. O que será melhor para você e para todo mundo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 23/1/2006