Não acompanho as peripécias dos foros por aí realizados, um em Davos, na Suíça, outro em Caracas, mais ou menos perto aqui de casa. São eventos distintos geográfica e ideologicamente, mas terminam no mesmo resultado: palavras, palavras, palavras, com direito a fotos.
Mesmo assim, li em algum lugar que dois cobras se declararam confiantes no futuro da humanidade. Thomas Friedman, jornalista premiadíssimo do jornal "The New York Times", e Bill Gates, que não precisa de prêmios para ser o que é, acreditam que a tecnologia dará toda a cota de felicidade e bem-estar que merecemos ou que nos é devida.
Ainda bem que há gente categorizada que pensa assim. O Dr. Pangloss, personagem de Voltaire, pensava mais ou menos a mesma coisa, mas com um adendo indispensável: o melhor dos mundos "possíveis".
Aí está a coisa: a possibilidade de tudo de bom que pode nos acontecer, desmentida a cada dia por tudo que realmente nos acontece. Quanto à tecnologia, caio de joelhos diante dela, não para adorá-la (não adoro nem a Deus, adoro apenas certas mulheres), mas para expressar o meu assombro. Lembro que fiquei pasmo quando vi, na estante de um supermercado, o primeiro peru já temperado e com um termômetro enfiado no peito para apitar na hora em que estiver pronto dentro do forno. Maravilha tecnológica indiscutível. Sim, podemos ser felizes e o futuro será melhor ainda.
Já falei, em crônica passada, naquela pequena alavanca que ajuda a abrir latas de graxa para sapatos. Era um custo abri-las apenas com a força dos dedos. Depois da roda, a maior conquista da humanidade foi a alavanca com a qual Arquimedes garantiu que suspenderia o mundo (não sei para quê).
Li também em algum lugar que inventaram um robô capaz de muitas coisas, inclusive de trocar cuecas sem necessidade de tirar as calças. Uma façanha além da imaginação e da necessidade.
Folha de São Paulo (São Paulo) 31/1/2006