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A clonagem de trabalhos e a nova pedagogia

 

O assunto é delicado e hoje objeto de graves preocupações por parte de professores e especialistas. Escolas atentas e com um bom projeto pedagógico estão valorizando o emprego de manuscritos, sobretudo em aulas de Língua Portuguesa, para evitar que alguns alunos pretensamente espertos retirem seus textos dos abundantes e nem sempre valiosos sites existentes na Internet.


Sofre o ensino brasileiro, que vê parte dos seus alunos abandonar o hábito de freqüentar bibliotecas (quando isso ocorria), para trocar pelo pouco trabalho de copiar o que lhes interessa na internet. Exigir o trabalho "a mão", como faz hoje o Colégio Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, é para evitar a simples e desaconselhável cópia.


Na "Folha de S. Paulo", de 23 de outubro de 2005, uma reportagem de Fábio Takahashi mostra que há plagiadores contumazes e os colégios chamam o fenômeno de "clonagem de trabalhos". Diz o professor Sérgio Ferreira do Amaral, da Unicamp: "Se o professor ler o trabalho, saberá se foi ou não copiado."


Em outra matéria, no mesmo jornal, é mostrado como se evitar a cópia com a encenação de peças por parte dos alunos - e um amplo debate de que participa a platéia interessada. São defesas pedagógicas de democratização da informação, que não pode compactuar com esse tipo de ilicitude, sobretudo nas camadas mais jovens da população.


Se esse exemplo está sendo combatido nas escolas, o que dizer da sua condenável generalização? Não há qualquer justificativa para a apropriação intelectual indébita, em que campo ela estiver situada, seja em cursos de pós-graduação, como há ocorrências, ou em matéria que esteja sob julgamento da magistratura brasileira, considerada uma das mais competentes e dedicadas do mundo. A exceção é lamentável.


Uma forma de evitar tais espertezas é inaugurar, em 2006, um novo curso de Pedagogia. Já não é sem tempo. Seguramente desde a década de 80 que está sendo tentado um novo modelo, sem qualquer acordo entre as partes interessadas. Ao entrar no Conselho Federal de Educação, em 1986, recebemos do seu então presidente, professor Fernando Gay da Fonseca, a recomendação de uma dedicação especial ao curso de Pedagogia, que então já precisava de uma grande reforma.


O tempo foi passando, tentativas surgiram, houve nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mas não saímos dos fundamentos da velha Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. No fundo, os grandes reformistas que se reuniam nas Faculdades de Educação não queriam mudar nada. Só fazer onda, como tivemos experiência em "n" reuniões havida em diversas capitais brasileiras.


O Conselho Nacional de Educação anuncia uma resolução, instituindo novas diretrizes curriculares para os cursos de licenciatura em Pedagogia. Serão extintas as habilitações de Supervisão, Orientação, Administração e Inspeção Escolar, que passam a ser oferecidas na pós-graduação, exigindo-se a experiência do magistério. A licenciatura em Pedagogia será destinada à formação de professores para Educação Infantil e para Anos Iniciais do Ensino Fundamental; para os cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal; e para Educação Profissional, nas áreas de serviços e apoio escolar. O novo curso de Pedagogia terá 3.200 horas de carga horária mínima. Vamos esperar que as coisas melhorem num dos pontos mais nevrálgicos da educação brasileira, que é a formação de professores e especialistas.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 5/2/2006