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Canas e bananas

 

Parece que o presidente dos Estados Unidos descobriu a pólvora depois da roda, a coisa mais descoberta por todos. Disse ele que os norte-americanos têm o vício do petróleo, alertando para o exagerado consumo do produto fóssil, até agora a maior e mais popular fonte de energia industrial.


Na mesma ocasião, parece que Bush citou o exemplo do Brasil, que desenvolveu, abandonou e novamente está desenvolvendo a tecnologia energética do álcool da cana-de-açúcar, que pode ser menos potente do que o petróleo, mas é renovável ao infinito e com menos carga poluidora. Além de gerar outros subprodutos, como a cachaça e a rapadura.


Tudo bem. É para a frente que se deve andar, e nada demais que os Estados Unidos também andem para a frente. O risco que corremos é que transformem o Brasil num imenso, num formidável canavial para abastecer as goelas dos países industrializados, que, mais cedo ou tarde, e enquanto não encontrarem outra opção energética, terão de enfrentar o desafio da escassez ou mesmo da falta do petróleo.


Houve tempo em que o mundo mais rico e poderoso olhava a América Latina, sobretudo a Guatemala e o Brasil, como um imenso bananal, daí a expressão "Banana's Republics". Produto tropical, rico em potássio e em outros sais minerais, a banana chega a ser, ainda, uma fruta para os ricos lá de cima. Aqui é fruto de pobre mesmo. Cuba e Brasil poderão integrar a nova comunidade da "Cana's Republics". O petróleo será poupado para abastecer a petroquímica, que me parece não ter ainda alternativas viáveis.


Fico pensando na Amazônia, no cerrado, nos imensos pastos que formam nossas reservas de alimento e desenvolvimento. A gula pela cana será tal e tanta que desmentirá as bagaceiras e o fogo-morto dos romances de José Américo e José Lins do Rego. Teremos de volta o Vitorino Papa Rabo.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 8/2/2006