"1.000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer", best-seller mundial da americana Patricia Schulz lançado no Brasil pela Sextante, traz cerca de 20 paradas obrigatórias no país. Mônica Bergamo, 23 de abril de 2006
Tão logo ele tomou conhecimento dos mil lugares imperdíveis no mundo, decidiu: seria o primeiro brasileiro a conhecê-los todos. Homem muito rico, recursos para isso não lhe faltariam. Pretendia, inclusive, realizar este périplo em tempo recorde, em primeiro lugar para dar à façanha ainda maior destaque e depois porque, pela idade, já não podia fazer planos a longo prazo. Assim, tudo o que faria era entrar nos lugares mencionados na obra, tirar uma foto e seguir adiante. Consultou um amigo, dono de uma grande agência de turismo. Sim, era possível fazer aquilo em um ano, desde que ele alugasse um jatinho particular. O que sem demora foi feito, e assim ele partiu, disposto a visitar pelo menos três lugares por dia. Era difícil, mas ele o conseguiu e assim pouco a pouco foi riscando os lugares de sua lista.
Deixou o Brasil para o fim. Em nosso país eram cerca de 20 lugares, a maioria deles em São Paulo, cidade onde nascera e onde morava. Os amigos esperavam que ali se encerrasse a gloriosa trajetória, mas seus planos eram diferentes. Queria terminar com o Copacabana Palace, no Rio.
Havia uma razão para isso, uma razão muito especial. Anos antes ele se apaixonara por uma mulher, uma jovem e linda carioca. Paixão tão fulminante, tão avassaladora, que ele decidira largar tudo, esposa, filhos, empresas e viver com a moça no Rio. Para tanto, haviam marcado um encontro no Copacabana Palace.
Encontro ao qual ele não compareceu. Chegou a viajar para o Rio e, no aeroporto, tomou um táxi para ir ao famoso hotel, mas no meio do caminho desistiu: não, não abandonaria tudo que havia conquistado por causa de uma aventura amorosa. Voltou a São Paulo sem ir ao Copacabana Palace -no qual, aliás, nunca entrara.
Agora, finalmente, adentraria o hotel. Não mais para uma aventura, mas para gozar seus 15 minutos de fama. Seus assessores haviam avisado a imprensa, que lá estaria para registrar o clímax da aventura, a chegada ao último dos mil lugares.
Já era noite quando o jatinho pousou no aeroporto. Ele tomou um táxi. Nervoso: já estava atrasado. E, para cúmulo do azar, havia um congestionamento em Copacabana. Decidiu completar o trajeto a pé, apesar das advertências do motorista.
Já estava a uns 200 metros do famoso prédio da avenida Atlântica, quando o assaltante lhe apontou o revólver. Ele fez um gesto - um gesto que queria dizer leve tudo, mas não me retenha, tenho um encontro com o Destino - mas foi mal interpretado: o homem achou que ele tentava reagir e disparou.
Caído no chão, agonizante, tinha apenas uma mágoa: havia um lugar, um único entre mil outros lugares, que ele não veria antes de morrer. O problema, concluiu antes de expirar, é que a gente não pode ter tudo o que se quer na vida.
Folha de S.Paulo (São Paulo) 01/05/2006