Não se pode considerar a reforma ministerial que não houve como uma batalha perdida para Lula. Todos sabiam que ele não desejava reforma alguma. Mesmo assim, os compromissos que assumiu com um mundão de gente, e a evidência de que não tem condições para mudar os seus auxiliares mais diretos mesmo que tivesse intenção ou necessidade de mudá-los, colocou sua força política em baixa, ainda que em baixa provisória.
Seu carisma popular permanece inalterável. Não será por aí que a porca torcerá o rabo. Mas a classe política e empresarial é astuta o suficiente para detectar sinais de debilidade em sua pretensão de tentar um segundo mandato.
Para anular ou minimizar a tendência que o enfraquece, Lula anunciou uma "agenda positiva" para os próximos dias, o que dá a impressão de que, dois anos após a sua posse, tudo o que fez foi cumprir uma agenda negativa, ou, dando de barato, uma agenda neutra, nem pra lá nem pra cá. Uma agenda medíocre.
A memória nacional é curta, mas basta uma olhada nos jornais durante o governo de FHC para lembrarmos que, toda a vez que o regime tucano era cobrado ou acusado explicitamente de inércia ou de escândalo, os tecnocratas da ocasião baixavam um plano, um programa, um pacote qualquer, destinavam verbas mirabolantes para resolver problemas igualmente mirabolantes, a mídia passava duas ou três semanas analisando e louvando as medidas anunciadas e tudo era empurrado com a barriga. Os grandes desafios nacionais continuavam sem solução, e a desculpa preferida dos governantes era de que não havia verbas.
Verbas que novamente eram anunciadas no pacote seguinte. Perseguiam uma agenda positiva que nunca foi cumprida. É evidente que sempre havia, retrospectivamente, uma lista de realizações, de avanços e de vitórias, tal como agora. Mas se limitavam ao crescimento vegetativo de qualquer sociedade, de qualquer economia, que independe dos governos para continuar viva.
Folha de São Paulo (São Paulo) 02/04/2005