Meu amigo Evandro Teixeira, morto no Rio no dia 5 último, aos 88 anos, foi com justiça louvado como um dos grandes repórteres-fotográficos de sua geração. Todos falaram de seu senso de oportunidade —câmera, olho e dedos rápidos para captar um instante, um personagem, um país, uma passagem da história. As reportagens citaram a foto noturna da tomada do Forte de Copacabana no dia do golpe, a do estudante indo ao chão numa passeata e a da cavalhada ao redor da igreja da Candelária. Era mesmo o mestre da foto em ação, em dramático preto-e-branco e sempre sobre um grande tema.
O que dirão seus admiradores ao saber que, um dia, Evandro, talvez cansado dos atropelos das reportagens de rua, quis ser também um fotógrafo de estúdio, trabalhando com a cor, experimentando filmes e tendo às suas ordens modelos bonitos, estáticos e obedientes? Foi em 1976, quando estávamos no Jornal do Brasil. O JB ia lançar a Domingo, uma revista semanal ilustrada em cores, a sair de graça dentro do jornal, talvez a primeira da imprensa brasileira. Isaac Piltcher era o diretor, e eu, o editor-executivo.
A Domingo era um projeto pessoal da condessa Pereira Carneiro, dona do JB. Todo o resto do jornal detestava a ideia. Ninguém na Redação aceitava participar dela, principalmente os fotógrafos das outras editorias. Talvez com razão —seria uma revista fútil, de moda, serviço e comportamento, numa época em que o JB era o aríete da imprensa sob Geisel. Um único fotógrafo se ofereceu para nós: Evandro Teixeira. Queria trabalhar com novos filtros, lentes, luzes, ângulos ousados. Enfim, futilidades.
Pelos meses seguintes, Evandro fotografou as manequins de Iesa Rodrigues portando chapéus, saias e sapatos extravagantes, imortalizou as moquecas e omeletes preparadas por Cilea Gropillo e acompanhou as repórteres Cleusa Maria e Cristina Lyra em matérias sobre grã-finas, gatos, tênis, golfe e aparelhos ortodônticos. Talvez quisesse se provar à altura dos grandes fotógrafos de interiores.
Pois se provou. Satisfeito, Evandro nos agradeceu. Voltou para as ruas e para as obras-primas que produzia brincando.