Com o auditório da Casa de Cultura de Paraty lotado, cerca de 200 pessoas assistiram ao lançamento da mais recente edição da Revista Brasileira – Que mundo é este? - na última quinta-feira, durante a 22ª edição da FLIP.
Além da editora Rosiska Darcy de Oliveira, estiveram na mesa os Acadêmicos Ruy Castro e Godofredo de Olivera, e os escritores Jeferson Tenório, Carla Madeira e Rodrigo Lacerda, todos colaboradores da revista. A jornalista Cristina Aragão, subeditora da revista, mediou o encontro.
Rosiska abriu o debate apresentando a revista. “Tem mais de 127 anos, sofreu uma reformulação e tem um projeto. É uma revista brasileira, traz o DNA no nome. É brasileira, escrita por brasileiros, para os brasileiros e procura abordar temas que ferem e preocupam o Brasil; captar por um lado as agruras e as dificuldades do Brasil, e por outro, o Brasil que dá certo, tudo aquilo de que nós podemos nos orgulhar, que está na literatura, na ciência, nas artes plásticas. A ideia da Revista é discutir tudo o que é altamente preocupante neste país”.
O último número da revista traz uma provocação, com o título “Que mundo é este?"
É uma pergunta que está na cabeça de todos nós, disse Rosiska. “Ela nos ocupa por que, de um tempo para cá, a vida real vem se acrescentar uma outra vida, em que nós todos estamos mergulhados, que é a virtual. Esta vida trilha neste planeta que já é conturbado por crise climática jamais vista, ou percebida, por crises políticas, econômicas. O espaço para pensamento vem se espreitando a cada dia, o que é altamente preocupante. E para esta edição, pedimos a colaboração de pessoas que vêm trabalhando esta questão de diferentes pontos de vista, como Eugenio Bucci, especialista em comunicação, recentemente eleito para a Academia Paulista de Letras e os psicanalistas Maria Homem e Joel Birman. Os dois trazem a inquietude em relação ao estreitamento da área do pensamento”.
Ruy Castro foi radical: “A Revista Brasileira é indispensável, porque tem entrevistas e dossiês sobre escritores, depoimentos perdidos no tempo que merecem ser publicados e estudados daqui a muitos anos, assuntos sem alcance comercial, que ninguém publica: "O que resta da imprensa está cada dia mais comercial e este tipo de análise mais profunda, sobre assuntos que não estão ostensivamente em pauta, embora estejam, não têm espaço. A revista da Academia Brasileira de Letras é o veículo para isso. Ela não é encontrada nas bancas, mas nas principais livrarias do país, em bibliotecas e centros culturais”.
“Ela faz parte da grande tradição brasileira de revistas culturais, como a Revista do Livro, publicada pelo Ministério da Educação nos anos 40 e 50. É espantoso ver nas páginas da revista a preocupação dos escritores com o Brasil, a profundidade com que discutiam, que jamais se vê em outras revistas. É preciso ter este tipo de revista, que acolhe não só a a opinião dos chamados aristocratas da palavra, como os escritores e poetas, como também, seguindo a composição física da ABL, de operários da palavra, como jornalistas, historiadores, médicos, atriz, compositor, dando uma visão dacultura. E dirigida pela Rosiska, é solidamente ancorada na realidade. Tenho grande orgulho de contribuir com a revista”, disse.
Godofredo de Oliveira Neto, corroborando a fala de Ruy Castro, lembrou que há 77 anos, a Academia recusou apoio à vinda ao Brasil do escritor alemão Thomas Mann por achá-lo comunista. “Este encontro aqui demonstra como a ABL se modernizou”.
Carla Madeira e Jeferson Tenório falaram sobre os artigos publicados nesta edição, fruto das palestras que fizeram nos ciclos das terças-feiras na ABL.
12/10/2024