Em reportagem recente, a revista The New Yorker perguntou no título: "O que aconteceu com o yuppie?". Leitores embatucaram. Para eles, a matéria devia se referir a algum animal extinto, como o dodô ou o unicórnio. No que não estariam muito errados porque, quando os yuppies dominavam a Terra, entre 1975 e 1985, eles ainda não tinham nascido. Afinal, o que ou quem era o yuppie?
Yuppie era uma abreviatura em inglês para "young urban professional", jovens profissionais afluentes de Nova York entre 25 e 40 anos, com formação universitária e que ostentavam abusivamente seus cargos, salários e gostos. Era uma reação aos hippies, que, dez anos antes, pregavam um idealismo sem ambição, voltado para a vida na flauta, o cultivo de piolhos e o fabrico de filhos. Coincidiu que, em boa parte daqueles anos, a economia vivesse em crise, tornando meio imoral gastar dinheiro em supérfluos.
Os yuppies vieram para derrubar isso. Não era imoral ser carreirista, nem ganhar dinheiro nem gastá-lo em artigos de grife. Em pouco tempo espalharam-se por Barcelona, Milão, Berlim e, adivinhe, São Paulo. Em todas, tinham em comum os blazers do Armani, gravatas da Brooks Brothers, carteiras Gucci, Rolexes de ouro, carros BMW, charutos Davidoff e, claro, sapatos Lobb, feitos sob medida em Londres. No cabelo, Gumex; na cabeça, o laissez-faire. A droga dos hippies era o ácido; a dos yuppies, a cocaína, mais ao ponto.
Uma subseção yuppie em São Paulo, em 1984, foi a nunca declarada, mas que existiu, Juventude Malufista. Seu ídolo Paulo Maluf era então candidato indireto à Presidência contra Tancredo Neves. Tancredo ganhou e não levou, mas "tio Paulo" se eclipsou. Em 1989, com atraso, os yuppies chegaram ao poder com Fernando Collor. Mas foi uma ejaculação precoce, porque Collor logo caiu, por excesso de yuppismo. Os yuppies então se olharam ao espelho, enxergaram a própria cafonice e se extinguiram. Várias eras geológicas depois, João Doria foi uma tentativa frustrada de ressurreição do yuppie.
Surge agora o yuppie versão pré-histórica, grosseira, careta, jeca, do dinheiro pelo dinheiro: Pablo Marçal.