Pesquisadores da Universidade Raboud, na Holanda, analisando cerca de 5.000 participantes de 358 tarefas cognitivas, chegaram à conclusão de que pensar dói. Não ria. A análise foi feita com o auxílio de um programa especial da Nasa, o que lhe dá mais autoridade do que a de pesquisadores limitados a só usar o cérebro. Pelo que entendi, certas atividades cerebrais, como fazer cálculos matemáticos, ler Gertrude Stein ou tomar decisões que envolvam um sim ou não de vida ou morte, provocam sensações orgânicas que podem ser classificadas como dolorosas.
Segundo o estudo, quanto maior o esforço mental, maior o desconforto físico. Não é preciso pensar muito para se chegar a este óbvio, por definição, ululante. O estudo não considera a hipótese de todo esforço mental ser relativo —para muitos, calcular uma reles raiz quadrada será uma tarefa intransponível, enquanto, para outros, discutir a Conjectura de Poincaré com Alfred North Whitehead pode ser tão simples como falar de futebol no botequim.
O estudo, pelo menos, admitiu certa possibilidade de diferença entre as pessoas, citando estudantes universitários e militares —imagino que cada um numa ponta do espectro cognitivo. O que me espanta é que a conclusão de que pensar dói tenha vindo de uma instituição da Holanda, país admirado por produzir pensadores em tantos ramos. Eram holandeses Erasmo de Roterdão (1466-1536) e Spinoza (1632-1677), dois pilares da filosofia, atividade cuja única ferramenta é o pensamento. E não há registro de que Erasmo e Spinoza sofressem de lumbago ou dor de dentes por pensar.
Holandeses foram enormes pintores como Van Gogh, Rembrandt, Hieronymus Bosch, Vermeer e De Kooning, e pintar envolve decidir em um segundo se se dá esta ou aquela pincelada. E alguns dos jogadores mais cerebrais da história do futebol eram holandeses —Cruyff, Van Basten, Gullitt, Neeskens, Bergkamp—, a provar que nem sempre o cérebro precisa estar na cabeça.
Os holandeses inventaram também a fita cassete, o CD e o DVD, e temos de lhes ser gratos por isso. Mas depois os desinventaram —e pensar nisso, sim, dói.