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Ele nunca fez um mau filme

 

Grande ideia, a exposição "O Cinema de Billy Wilder", em cartaz no MIS de São Paulo. Billy, que morreu em 2002, aos 94 anos, iria adorar. A morte fez mal à reputação de John Ford, Frank Capra, Howard Hawks e outros grandes cineastas. À dele, não —talvez seja hoje uma unanimidade. Em vida, era admirado, mas não exatamente amado. Seu maravilhoso deboche ofendia os papalvos.

A mostra tem reproduções de seus cenários, textos, fotos, cartazes, objetos e figurinos originais, e, na tela, 13 dos seus 27 filmes. Sim, é sempre bom rever "Crepúsculo dos Deuses" (1950), "O Pecado Mora ao Lado" (1955) e "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), eu próprio faço isso uma ou duas vezes por ano. Mas os visitantes ficarão atônitos com "Farrapo Humano" (1945), "A Montanha dos Sete Abutres" (1951) e "Se Meu Apartamento Falasse" (1960), três dos filmes mais incisivos do cinema.

O vienense Billy perdeu sua família em Auschwitz, o que não o impediu de fazer "Inferno nº 17" (1952), uma comédia passada num campo nazista de prisioneiros. Não perca também "Sabrina" (1954), "Irma la Douce" (1963), "Avanti!" (1972), "A Primeira Página" (1974). Enfim, não perca nenhum.

Mas Billy fez outros grandes filmes, ausentes neste festival e que estão sendo criminosamente apagados da sua obra: "A Incrível Susana" (1942), com Ginger Rogers, aos 31 anos, fazendo uma garota de 12; o tremendo "Pacto de Sangue" (1945), com Barbra Stanwick em seu apogeu de crueldade; o delicioso "A Valsa do Imperador" (1947), com Bing Crosby; o sensacional "A mundana" (1947), na Berlim pós-guerra, com o embate entre Jean Arthur e Marlene Dietrich; o delicado "Amor na Tarde" (1957), com Audrey Hepburn e o crepuscular Gary Cooper; o fabuloso "Cupido Não Tem Bandeira" (1961), com um show de James Cagney; o quase maldito "Beija-me, Estúpido" (1964), com Kim Novak. Nunca fez um mau filme.

Desculpe as hipérboles. É que Billy Wilder me tira do sério.

Folha de São Paulo, 24/08/2024