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Entre os melhores do mundo

 

Para quem ainda não sabe, foram três de ouro, sete de prata e dez de bronze os prêmios ganhos pela equipe brasileira, as medalhas que o país ganhou na última Olimpíada, a Olimpíada de Paris. E que cidade!

Lembro-me bem dos dias que passei por Paris, sobretudo aqueles em que andei na cidade nas vésperas do exílio político, assim como os que passei por lá, já no exílio político (queriam me prender e talvez torturar porque fazia filmes!).

Durante esses últimos, em setembro de 1970, nascia minha filha primogênita, Isabel, sonhada há tanto tempo. Sua mãe, aliás, ficaria grávida logo em seguida de Francisco, que só veio a nascer no Rio de Janeiro, alguns meses depois.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) nunca apontou o vencedor da Olimpíada, onde quer que elas fossem realizadas, pelo quadro de medalhas. Isso foi uma invenção da imprensa para acompanhar os resultados. Acabou tornando os Jogos Olímpicos um campeonato como outro qualquer, com suas torcidas, protestos e celebrações.

A China atualmente ocupa o lugar que já foi da URSS, ganhando um número impressionante de medalhas, chegando perto dos tradicionais vencedores. Essa disputa é encampada pela imprensa americana e parte da europeia, e estas acabaram por influenciar o resto do mundo, modificando um pouco o critério dos vencedores olímpicos.

Agora o destaque seria para os países que deixassem a competição com um maior número de medalhas de ouro, não importa em que tipo de disputa.

Esse critério pode até ser mais justo do que o anterior. Mas, por outro lado, obscurece outros mais sofisticados. Como, por exemplo, os resultados de cada país em seus níveis de desenvolvimento econômico ou social, em seu desenvolvimento humano.

Agora, o Brasil, com suas 20 medalhas, acabou se tornando o vigésimo colocado num número superior a cem países que disputavam a Olimpíada de Paris. Se levarmos em conta que 114 não ganharam nenhuma, sejam de que tipo fossem, veremos que nosso resultado em matéria de medalhas está muito acima de uma média geral.

Não importa se esses países, como Nova Zelândia, Uzbequistão ou Quênia, fossem menos desenvolvidos que o nosso. Importa mesmo é que lhes ensinamos a desenvolver seus esportes, preferidos ou não, sejam de que natureza forem.

Pelo menos nesse universo esportivo, ainda estamos entre os mais competitivos. (E melhores do mundo!). Isso foi demonstrado por nossas mulheres, as atletas que ocuparam a maior parte de nossos pódios durante a competição. Nossas “vítimas” durante o resto do ano!

Vivam essas “vítimas”, como Rebeca etc. e tal, as mulheres brasileiras que dominam nossos corações de janeiro a dezembro, e que ainda nos lembram desses prazeres no fim do ano. Sem elas, talvez não fôssemos nada, nem ninguém. Paris seria para nós apenas um ponto turístico, nesse mundo de tanta agitação e batalhas.

A Cidade-Luz, não mais do que isso, para visitarmos iluminados e distraídos durante nossas luas de mel.

O Globo, 19/08/2024