Mais que mostrar a melhora na popularidade do presidente, o resultado da última pesquisa Quaest reafirma a sensibilidade de Lula em relação a seu eleitorado. À primeira vista, sua campanha contra os juros altos pode ser a responsável pelo crescimento, mas é preciso que se restrinja esse efeito aos cerca de 30% que tomaram conhecimento das críticas e entenderam que ela se refere ao aumento dos preços, este sim o grande problema.
Não adianta ter uma inflação controlada, em torno de 4% ao ano, se a inflação de alimentos vai a mais que o dobro disso. O entendimento de que a guerra de Lula contra o Banco Central é a razão principal da melhora na popularidade pode levar a um diagnóstico errado, fazendo com que o presidente dobre seu empenho nos ataques aos juros altos, que não trarão nenhum benefício direto. Ainda mais depois que Lula indicar o novo presidente do Banco Central, fazendo com que a expectativa seja de baixa dos juros.
Uma melhora na avaliação do governo pode ser, desse ponto de vista, um problema, e não uma retomada, porque, se Lula se convencer de que sua popularidade sobe quando ataca o Banco Central, insistirá na prática, que não tem nenhuma base técnica, apenas política. Mas, se por um lado para ele está bom poder continuar assim, pois ninguém gosta de juro alto, a resposta é automática, por outro lado é um diagnóstico equivocado que pode atrapalhar a economia do país.
O resultado da pesquisa incentiva o comportamento do presidente, mas ele não pode atuar de acordo apenas em busca da popularidade, pois esse embate levou a uma subida forte do dólar, pressionando a inflação. E continuará a provocar inquietação nos mercados financeiros, o que prejudica a preocupação de Lula com as classes menos protegidas.
A decisão do presidente de sair pelo país, demonstrando mais interesse pelos problemas internos que pelos externos, é responsável pela alta no reconhecimento do governo Lula como ótimo ou bom. Lula parece ter recobrado o ânimo diante da perspectiva de queda de popularidade que resiste à melhora da economia. Se, no entanto, ele mantiver o ritmo de entrevistas e discursos, aumenta a chance de os improvisos criarem situações embaraçosas para si, mas é a única maneira de manter o eleitorado em sintonia com seu governo.
Outra armadilha é a empolgação de manter-se em campo de batalha, na esperança de recuperar a popularidade que já teve um dia, não apenas uma melhora dentro da margem de erro. O presidente não pode se guiar por pesquisas de opinião, que devem servir apenas de roteiro. Um presidente eficiente tem de fazer o que é necessário, que pode muitas vezes ser impopular. Porque as consequências aparecem, não tem como esconder.
Foi o que aconteceu na eleição de Dilma Rousseff como sua sucessora. Lula, acossado pelas denúncias de corrupção, entrou de cabeça na nova matriz econômica do então ministro Guido Mantega, estourou as contas, passou o governo com um crescimento de 7,5 %, mas o artificialismo das novas medidas não resistiu muito.
Para tornar a atual situação mais complicada, os instrumentos de proteção social já se tornaram parte integrante dos governos, não uma exclusividade do PT. Portanto, o bem-estar da população já não depende apenas deles, mas, sobretudo, é necessário que haja expectativa de melhoria, dentro de bases muito mais sensíveis que 20 anos atrás. Há uma ânsia de perspectiva de futuro muito bem-vinda, muito também graças aos sistemas de cotas nas universidades e no serviço público, implantados nos governos petistas e reforçados por decisões até do Supremo Tribunal Federal.