Em maio de 1876, na Exposição do Centenário da Independência Americana, em Filadélfia, um jovem inventor se propôs a mostrar o funcionamento de sua última criação ao simpático monarca estrangeiro que se dirigira a ele —aliás, a única pessoa em toda a feira que lhe dera alguma bola. O jovem era o britânico Alexander Graham Bell. O monarca, aliás, também o único naquela comemoração eminentemente republicana, era o nosso d. Pedro 2º, sempre atento às últimas da tecnologia.
Graham Bell passou a d. Pedro uma espécie de corneta e pediu-lhe que a levasse ao ouvido. Afastou-se para o fundo do stand, tomou de um aparelho semelhante, ligado ao de d. Pedro por um fio, e pareceu murmurar alguma coisa. No mesmo instante, as palavras entraram pelos tímpanos do imperador: "To be or not to be...". D. Pedro não esperava por aquilo. Deu um salto para trás e exclamou: "Mas isto fala!".
Claro que falava. Era o telefone, uma invenção a que Bell chegara ao tentar criar um aparelho que ajudasse os surdos a escutar e, sem querer, inventara um meio de comunicação que seria útil para todo mundo. Ao dizer a d. Pedro que pretendia comercializá-lo, o imperador respondeu: "Quando o senhor fizer isto, o Brasil será o seu primeiro cliente." E foi. Pouco depois, d. Pedro tornou-se o feliz usuário de uma linha ligando o Paço Imperial ao Paço de São Cristóvão —a primeira do Brasil e uma das primeiras do mundo. Desde então, ficou impossível imaginar o mundo sem telefone, não?
Não. De uns tempos para cá, as pessoas deixaram de falar ou de atender ao telefone. Preferem receber mensagens escritas com os polegares e responder da mesma maneira.
Imagine se, ao ligar para D. Pedro naquele dia, Bell, depois de ouvir sua ligação chamar oito vezes, tivesse como resposta a odiosa voz pastosa: "Deixe a sua mensagem na caixa postal." Entre o ser ou não ser, ele só teria o não ser.