A Academia Brasileira de Letras encerra o ciclo de debate sobre a questão racial de Machado de Assis na próxima terça-feira, dia 25, com palestra do professor de literatura brasileira da Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro, e do professor de Literatura Brasileira da USP, Hélio de Seixas Guimarães sobre “As melindrosas presunções da branquitude". A coordenação é da Acadêmica e escritora Heloisa Teixeira e a entrada é franca. As inscrições podem ser feitas pelo link: https://www.even3.com.br/as-melindrosas-presuncoes-da-branquitude-464143/
Hélio afirma que, por muito tempo, na história das leituras de Machado de Assis, o ponto de vista dominante foi o da branquitude, entendida como “um conjunto de práticas culturais não nomeadas e não marcadas” (Cida Bento). Esse conjunto, de forma sistemática, apontou desvios e falhas do escritor diante de expectativas e valores naturalizados e universalizados.
- Diante do black turn pelo qual passam os estudos machadianos, e da afirmação da negritude do escritor, a conferência propõe um movimento retrospectivo de releitura dos pontos cegos da crítica canônica e de atenção à emergência de uma nova geração de intelectuais negros, negras e negres, que sentiram e sentem na pele, em mais de um sentido, a força do racismo que atravessa a sociedade brasileira – destacou o professor de literatura brasileira da Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro.
Sobre os conferencistas:
Pedro Meira Monteiro é professor titular de literatura brasileira na Princeton University, onde dirige o Departamento de Espanhol e Português e é filiado ao Programa de Estudos Latino-americanos e ao Brazil LAB. Escreve em revistas como Piauí e Serrote. É autor, entre vários outros livros, de Conta-gotas (E-galáxia, 2016), A Queda do Aventureiro (Relicário, 2021) e Nós somos muitas (Relicário, 2022, em parceria com Arto Lindsay, Flora Thomson-DeVeaux e Rogério Barbosa).
Com Lilia Moritz Schwarcz organizou a edição crítica de Raízes do Brasil (2016), e o volume Sérgio Buarque de Holanda Essencial, da coleção Penguin-Companhia das Letras (2023). Com Jaime Luariano e Lilia Schwarcz, foi curador da exposição "Contramemória" no Theatro Municipal de São Paulo, em 2022. Participou da curadoria de diversas atividades na FLUP de 2022 e de 2023, e foi um dos curadores da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2021 e 2022.
Hélio de Seixas Guimarães é Professor Associado 3 (livre-docente) de Literatura Brasileira no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas na Universidade de São Paulo, vice-diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, bolsista de produtividade do CNPq desde 2008, criador com Marta de Senna da Machado de Assis em linha - revista eletrônica de estudos machadianos e pesquisador associado da Biblioteca Brasiliana Mindlin desde 2015. Graduado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestre e doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas, fez estágios de pós-doutorado na University of Manchester (2007), Reino Unido, e na Fundação Casa de Rui Barbosa (2015-2016), no Rio de Janeiro.
Foi professor visitante na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA) e Tinker Visiting Professor na Universidade de Wisconsin, em Madison (EUA). Tem 44 orientações e supervisões concluídas, incluindo 16 dissertações de mestrado, 9 teses de doutorado, 9 supervisões de pós-doutorado e 10 de iniciação científica. Tem mais de 80 publicações, entre livros, artigos, capítulos de livro e textos de divulgação. É líder do Grupo de Pesquisa CNPq Da autoria literária: história, atualidade e perspectivas. Atua principalmente nos seguintes temas: Machado de Assis, recepção crítica, adaptações de textos literários para cinema e televisão. Orienta trabalhos em nível de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, além de supervisionar estágios de Pós-doutorado.
O CICLO
O ciclo “Machado de Assis e a questão racial” está relacionado ao curso Machado Quebradeiro, voltado para formação de escritores em comunidades de periferia do Rio, que está sendo realizada na ABL todas as terças-feiras. Segundo a Acadêmica Heloisa Teixeira, o ciclo propõe uma leitura sintomal da obra de Machado e revela seu empenho na abolição, além de explicitar as contradições das elites brancas olhadas com aguda ironia pelo escritor.
- Este ciclo discute como é conduzida a questão racial na obra de Machado. A presença negra em seus contos, romances e, especialmente crônicas, mostra o equívoco de uma pretensa alienação do bruxo de Cosme Velho. Em suma, vamos revelar um novo Machado visto agora com novas lentes. Afinal, a ABL é a sua casa e tem a responsabilidade abrir esse debate que o afasta do conjunto da população – ressalta Heloisa.
18/06/2024