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Da valentia à diarreia

 

Deu no Painel (2/6). Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PL-SP), está sendo procurado há seis meses para se explicar ao STF sobre sua declaração, em 2023, de que os "professores doutrinadores", como ele os chamou, são "piores que os traficantes de drogas". Frase grave. A busca foi solicitada por uma deputada, aceita pela PGR e repassada ao STF, que destacou duas oficiais de Justiça para entregar a intimação a Eduardo Bolsonaro. Precisa ser-lhe dada em mãos, mas as moças não conseguem encontrá-lo.

Como parlamentar, Eduardo Bolsonaro dá expediente no Congresso Nacional, em Brasília, num daqueles prédios, o do pires emborcado ou o do pires para cima. A Câmara funciona lá, de terça à quinta. Já não é muito, mas Eduardo Bolsonaro deve achar demais. Não vai nunca. As oficiais variam os horários em que o procuram no seu gabinete, em que ele é servido por dezenas de assessores pagos com o nosso dinheiro, mas eles não sabem do chefe.

"Ainda não chegou", diz um. "Chegou, mas teve de sair", emenda outro. "Saiu, mas volta já", completa o terceiro. Volta nada. Eduardo Bolsonaro é invisível ou fujão. Foge até das mulheres. O relator do processo no STF, ministro Nunes Marques, ainda não se coçou sobre a questão —deve estar esperando ordens.

A extrema direita é valente no poder, mas não tanto fora dele. Para um livro em que estou trabalhando, ando lendo muito sobre o Brasil dos anos 1930 e 40. Tenho reparado que tanto os militantes mais histéricos do integralismo (1932-38), que era o fascismo brasileiro, quanto os membros mais notórios e graduados do DIP (Departamento de Informação e Propaganda), polícia política do Estado Novo (1939-1945), tentaram apagar esse passado em seus livros de memórias. Debalde. De que adianta não falar se a história fala —e como— por eles?

Na política, um dia é da valentia e o outro, da diarreia. Só o mau cheiro é igual.

Folha de São Paulo, 05/06/2024