A história das duas mulheres que passaram semanas morando no McDonald’s do Leblon, aqui no Rio, só me chocou pela escolha do anfitrião. Eu preferiria o Degrau ou o Alvaro’s, sexagenários altares da gastronomia e da boemia carioca, típicos do calor humano e da suavidade do Leblon.
Calor humano e suavidade? ---perguntará você. O Leblon não é o inferno noturno, com multidões nas calçadas das boates e dos botequins? É. E é também um dos bairros mais pacatos da cidade. Refiro-me ao Leblon diurno, ideal para flanar, com seu morno silêncio, ruas vazias e tudo o que um cidadão pode querer ao alcance das pernas. Duvida?
Sim, temos restaurantes, botequins e cafés, tanto de luxo quanto sórdidos. Mas também cinema de rua, banquinha de frutas na esquina e ambulante de cocada que passa buzinando. Dentista, hospital, correio, metrô, chaveiro, sapateiro, florista, relojoeiro. Teatro, colégio, shopping, igreja (católica), sinagoga e centro espírita. Lojas de moldura, de tecidos e até de pianos. Bazar de caçarolas e açucareiros. Livraria, lavanderia, padaria e loteria. Academias de judô, ioga e meditação transcendental. Ruas muito arborizadas. Jardins, o de Alah, em obras, e a praça Antero de Quental.
Praia histórica, com quiosques (inclusive para bebês), redes de vôlei e futevôlei, tendo ao fundo o morro Dois Irmãos, novo cartão-postal da cidade, e, ao largo, as ilhas Tijucas, onde no verão o sol se põe e as pessoas aplaudem do Arpoador. Clubes sociais, vários. E, ah, sim, um de futebol ---o Flamengo.
Este é o Leblon família, careta, com uma farta população de coroas e aposentados. O outro Leblon, que ocupa o mesmo espaço e sai nos jornais, é mais famoso: o das grandes noites nas ruas, com gente jovem, barulhenta, bonita, e que nós, moradores, nem temos o prazer de conhecer porque, quando eles chegam, vindos de toda parte do Rio e de fora, já fomos dormir.