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ABL na mídia - Jornal USP - A literatura infantojuvenil: entre o ataque exagerado e a defesa inquestionável

 

O poeta romântico alemão Heinrich Heine (1797-1856) certa vez afirmou: “Onde livros são queimados, seres humanos estão destinados a serem queimados também”. E, realística ou metaforicamente, livros e pessoas foram queimados ao longo dos séculos – e em várias latitudes –, antes e depois da frase de Heine. Ideias, palavras e expressões mal compreendidas ou incômodas para a moral de cada época – tudo sempre foi motivo para livros e autores serem emparedados ou incinerados. E em pleno século 21 essa tendência parece não ter arrefecido. Não se queimam mais livros. Mas a perseguição, a censura – muitas vezes velada, outras nem tanto – permanecem. Seja na explicitude de um livro retirado de circulação ou de alguma biblioteca, seja no fogo metafórico do “cancelamento” – esta incômoda prática que parece nova, mas não é. Muito tem se falado na censura ou na tentativa de censurar livros ditos “adultos”. Mas, e a literatura infantojuvenil, aquela responsável pela formação de leitores melhores – mais até, cidadãos melhores? Foi pensando nesse crivo que a literatura voltada para crianças e adolescentes tem sofrido que a Academia Paulista de Letras reuniu, no último dia 9, vários autores, editores e pessoas ligadas ao livro das mais diversas formas para discutir, durante um dia inteiro, a censura a esse tipo de literatura.

“Esse encontro se deveu a uma espécie de grande demanda de autores, editores, professores e pais sobre essa questão, que não está sendo tratada pela grande imprensa”, afirmou, ao Jornal da USP, a historiadora e ex-professora da USP Mary Del Priore, uma das idealizadoras do evento na APL, justamente intitulado Censura e Literatura Infantojuvenil. “Só se enfoca a censura a livros adultos, mas não se trata do tema da literatura infantojuvenil, o que tem preocupado um conjunto de pessoas responsáveis pela formação de jovens leitores. Leitores que a gente quer multiplicar”, ressaltou ela, que é ocupante da cadeira 39 da Academia Paulista de Letras.

O encontro reuniu nomes como os escritores Pedro Bandeira, Ana Maria Machado e Ilan Brenman, a professora Marisa Lajolo – especialista em Monteiro Lobato, o mais recente questionado autor de literatura infantojuvenil – e o quadrinista Maurício de Sousa. Os debates foram divididos em mesas, cujos temas foram A Importância do Professor Leitor, Lobato para Crianças: Censura, Apagamento, Cancelamento e Rasura, A Censura e a Literatura Infantojuvenil e O Prazer de Ler Nossa Literatura Infantojuvenil.  “O objetivo do nosso evento é mostrar o absurdo que é a censura da literatura infanto-juvenil, porque se a censurarem, depois vão acabar censurando a Bíblia”, afirmou, em sua fala de abertura, o presidente da APL, Antônio Penteado Mendonça. “A hora em que se chega a uma situação como essa, a estupidez tomou conta do mundo. E nós não podemos admitir que isso aconteça”, continuou ele, em uma fala forte na qual, inclusive, citou ataques à própria Academia quando Maurício de Sousa foi eleito para a cadeira número 24, em 2011. “Me perguntaram se a eleição não diminuiria a Academia por ele ser autor de livros infantis. E respondi, perguntando se quem questionou começou lendo Kant”, revelou o presidente da ABL. “Tudo começa no começo, ninguém começa lendo livros difíceis.”

Matéria na íntegra: https://jornal.usp.br/cultura/a-literatura-infantojuvenil-entre-o-ataque-exagerado-e-a-defesa-inquestionavel/

20/05/2024