Depois da tragédia que atingiu a Região Sul do Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, impossível imaginar que não se torne prioritária uma política de prevenção dos desastres climáticos que nos atingirão com mais e mais frequência nos próximos anos, como alertam os especialistas. Deixar de acreditar que o clima mundial tem sido modificado com uma intensidade que prenuncia graves consequências é ser negacionista radical, com mais razões políticas que científicas. Está na hora de tirar do papel a proposta da ministra do Meio Ambiente de criar uma autoridade nacional de enfrentamento das mudanças climáticas.
As imagens que recebemos das regiões atingidas no Rio Grande do Sul são assustadoras, os danos concretos superam tragédias que já nos afrontaram anteriormente, como Brumadinho e Petrópolis, ou mesmo crises estrangeiras, como o Furacão Katrina em Nova Orleans. Ao mesmo tempo que tragédia tamanha serviu para redescobrirmos a importância da solidariedade, que sempre foi nossa característica, abriu espaço também para a disseminação de fake news, criando uma situação cruel.
Se, por um lado, favoreceu o ressurgimento de um sentimento de unidade nacional, de empatia e ajuda aos necessitados, a tragédia também alimentou criminosos; o que não é novidade. Toda vez que acontece alguma crise ou desastre grande, infelizmente aparecem os aproveitadores para saquear, invadir casas etc. Mas é muito grave o uso político dos eventos, inventando notícias para irritar pessoas contra seus adversários, para que os cidadãos se revoltem com o que não existe e não consigam ver como as autoridades, governos estaduais e municipais estão trabalhando ou não tenham capacidade de separar os que trabalham com seriedade daqueles que são meros populistas.
Além de atrapalhar resgates e doações, cria maior insegurança do que a que já existe naturalmente. É uma triste notícia saber que este momento de união do país em torno das consequências de uma tragédia sofre interferência de ações criminosas, sobretudo de caráter político. A concentração de esforços para ajudar o Rio Grande do Sul vem sendo uma demonstração de solidariedade impressionante.
Voltamos a ter um país que se une em torno de uma causa, não importa se o cidadão voluntário é bolsonarista, petista ou anula o voto diante da escolha difícil. O momento de trauma é propício ao trabalho sujo de quem aproveita o impacto da dor para tirar proveito político. Os oposicionistas que querem atacar o governador Eduardo Leite — potencial candidato a presidente da República —, os bolsonaristas que atacam Lula, e Lula que ataca Bolsonaro.
Claro que o governador do Rio Grande do Sul é responsável, assim como o prefeito de Porto Alegre, pela falta de políticas públicas de prevenção, que deveriam ser permanentes, e não apenas lá no Sul. Mas é uma pena que atitudes populistas destoem do ambiente geral, de união em favor dos flagelados e do soerguimento do estado. E está muito bonito. Faz bem para a saúde do país.
A participação dos militares numa ação bem definida também é muito importante. Não é o momento de discutir o papel das Forças Armadas no contexto nacional nem de criticar a ação política de parte da corporação. O correto é saber que o trabalho dos militares no resgate das vítimas das enchentes é feito de maneira exemplar e garante o apoio do Estado brasileiro aos atingidos pela tragédia.
É um momento de congraçamento em torno de um objetivo nacional comum, e é uma lição que isso tenha acontecido como consequência de uma tragédia ambiental terrível, que exige um país unificado e medidas urgentes de prevenção. Temos de começar a pensar em como enfrentar essas intempéries, que serão permanentes e aumentarão a cada dia, porque a situação ambiental no mundo é muito ruim. E ninguém faz nada, ou faz muito pouco, para tentar travar esta crise que se revela pior a cada dia.