Millôr Fernandes, indagado sobre se torcia por um time, dizia-se Fluminense. Mas que não lhe pedissem para citar um craque do tricolor —não saberia. Estava mais para a grã-fina que, segundo Nelson Rodrigues, ao entrar pela primeira vez no Maracanã lotado, perguntou maravilhada: "Quem é a bola?? Quem é a bola??". Millôr, como sabemos, tinha mais no que pensar.
Daí a surpresa quando, nos anos 1970, no Pasquim, ele resolveu falar de futebol e propôs que o jogo melhoraria muito se acabassem com a lei do impedimento. E não se convenceu quando lhe dissemos que, sem o impedimento, não haveria futebol: 10 jogadores de cada time se concentrariam na área do adversário esperando pelo chutão do goleiro.
Com mais rodagem no futebol do que Millôr, concordo com ele em que uma ou outra regra precisa ser revista. As faltas na entrada da área, por exemplo. Por que quase não se fazem mais gols em cobrança de falta? Porque os jogadores espicharam e as barreiras ficaram muito altas, ao passo que a distância entre elas e a bola continua nos 9,15 m originais. Como os jogadores dificilmente encolherão, a solução seria aumentar a distância da barreira.
O mesmo quanto à metragem dos gols. Nenhum dos antigos goleiros —Barbosa, Castilho, Gylmar, Manga, Leão, Felix— passava muito de 1,80 m. Mas, a partir de Dida, 1,96 m, nos anos 1990, tudo mudou. Com o impulso, hoje qualquer goleiro cobre brincando os 7,32 m entre uma trave e outra —na verdade, 3,66 m a partir do centro do gol. E, com o travessão a apenas 2,44 m do solo, baterá com a cabeça se não se cuidar. Estas são medidas de quando Don Don jogava no Andaraí. Um gol maior significaria mais gols e mais trabalho para os goleiros.
Por fim, para moralizar a coisa, sugiro que só o capitão do time poderia falar com o juiz. Cartão amarelo para qualquer outro que lhe dirigisse a palavra, mesmo que para chamá-lo de ladrão.