Logo em seguida às manifestações de maio de 68 que sacudiram várias capitais ocidentais, publicaram-se, na área literária, romances com forte componente histórico e humanista. Os romancistas historiadores do presente cediam um pouco de espaço ao romance histórico, ou de extração histórica. Essa memória do passado exibia uma grande preocupação mítica, homens e mulheres ávidos por conhecer sua fonte civilizacional na expectativa de que esse passado revisitado desvelasse os grandes valores humanos perdidos pela sociedade. (Essa época contagian te me permitiu conceber "O Bruxo do Contestado ").
O grande sucesso mundial daquela década será "Memórias de Adriano", da Margueri Yourcenar. Nesse belo romance a História serve de trampolim para reflexões filosóficas e estéticas sobre o processo civilizatório. Adriano administra com diligência a su a época, Zenão é revoltado e contestador. O grande autor do século XIX super valoriza do então é Flaubert ( "Salammbô "). Lygia Fagundes Telles publica, em 1973, " As meninas ". Era o auge da ditadura militar.
Mas a ideia de se estar entrando em terra mágica logo nas primeiras linhas dessas obras canônicas assegura a autonomia da literatura em relação à História. Ao entrar no Campus da UFRJ hoje, 23/02/2024, sol forte,temperatura de 33 graus, fraterna e colorida algazarra dos alunos, me pergunto se acontecimentos extra-literários do Brasil de hoje podem influir na estética da nossa atual literatura . Há uma preocupação evidente em muitas escritoras e escritores contemporâneos de escrever com o objetivo precípuo de defender causas sociológicas e políticas. E, pelo que acompanho, mais do que justas. Nada contra, claro. Inclusive aplauso. Mas acima deve pairar a arte literária. Vide "Vidas Secas ", do Graciliano, ou mais perto de nós, " Tropical sol da Liberdade ", da Ana Maria Machado. (crônica já publicada em redes sociais pelo autor e adaptada)
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