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Rumo aos dicionários: as palavras criadas em diversas áreas

 

A Folha lançou uma seção, Opinódromo, para destacar textos e opiniões de colunistas e entrevistados do jornal. "Opinódromo" é uma palavra nova, não dicionarizada, mas legítima, dentro dos cânones da língua, e, se pegar, irá um dia para o Houaiss. Mas só se pegar. Em 1984, isso aconteceu com "sambódromo", a passarela inventada por Darcy Ribeiro, então vice-governador do Rio, para o desfile das escolas de samba. Já o mesmo não aconteceu com "beijódromo", outra passarela bolada por Darcy, destinada a nheco-nhecos noturnos dentro do carro, que nunca saiu da sua imaginação delirante.

Raro o dia em que não surge uma palavra nova nas diversas áreas —política, economia, cultura, comportamento. Todas são possíveis, têm pai e mãe conhecidos e, por isso, dispensam definição: sincericídio, austericídio, monocracia, catastrofismo, granaduto, propinoduto, emendoduto, estadopatia, narcogarimpo, queridômetro, atacarejo, transfobia, gordofobia, tecnofobia, tecnossauro, tecnopatia, instagramável.

Outras, menos óbvias, pedem explicação: desproduto (uma conseqüência nefasta do progresso), reoneração (reversão da desoneração), criminogênico (que tende ao crime), concluinte (aquele que está concluindo um curso), idadismo (novíssima forma para a também nova etarismo), produtivismo (simular produção de alguma coisa para se dar bem), capacitismo (preconceito contra deficientes supostamente incapazes de alguma coisa), nepobaby (filho ou filha de famosos que, com ou sem talento, já começa consagrado).

Para não falar em sapiossexual (que só tem relações com quem admira intelectualmente), demissexual (com quem tem conexões emocionais) e ecossexual (que não sei se entendi bem, mas acho que tem
a ver com árvores).

Mas minha favorita continua a ser a do título do romance de Reinaldo Moraes, de 2009, e que define a secular antissaga do povo brasileiro: "Pornopopeia".

Folha de São Paulo, 04/02/2024