Em setembro deste ano, publiquei aqui um artigo em que explicava a meus amigos como, chegando de Maceió com 6 anos de idade, tinha me tornado um ardente torcedor do Botafogo no Rio de Janeiro. Não me lembrava de nenhum motivo prático e objetivo para fazer esta escolha, mas ela se estabeleceu no meu coração e fui em frente.
As cores do time eram as mais simples possíveis, aquela vocação alvinegra radical era uma prova cabal de meu desinteresse pelo escândalo frenético de rubro-negros, tricolores e da Cruz de Malta no peito de craques, como se fossem sinais de proteção contra todos os males vindos de adversários tratados como inimigos. Já o Botafogo jogava contra difíceis adversários. Mas inimigos, nenhum.
Coincidia que o dia da semana em que não havia aula no Colégio Santo Inácio era o mesmo em que, toda quarta-feira, o Botafogo fazia exercícios com bola, mais ou menos longos, uma espécie de treino para o jogo de domingo. Digo modestamente “uma espécie de treino”, porque nunca vi ninguém perder a cabeça por causa da perda de uma posição ou de um drible tomado no meio do que mais parecia uma pelada entre amigos de um mesmo escritório de trabalho. Os “indiscutíveis”, gente como Nilton Santos, Heleno de Freitas, Didi e o Mané Garrincha, sorteavam os outros jogadores, formavam os times a partir de sua qualidade pessoal e ficavam batendo bola até escurecer.
Esse sim era um momento mágico, em que todo o nosso orgulho pessoal por torcer por um time como aquele vinha à tona e se tornava uma discussão acérrima sobre nossos favoritos. Que em geral podiam sair rindo de seus experimentos futebolísticos, sem vontade nenhuma de discutir quem tinha sido o melhor no “treino”. É claro que cada um deles se sentia o melhor, mas não se expunha a dizer tamanha ousadia.
O Botafogo foi sempre um celeiro para a seleção brasileira. Fomos duas vezes bicampeões em 1961/62 e depois em 1967/68; nas duas oportunidades (como em outras intermediárias) contribuímos com nossos melhores jogadores, ajudamos com nossos craques a montar as melhores seleções do país. Que o digam Gerson e Paulo Cesar e, mais uma vez, Garrincha e Nilton.
Só fui conhecer o Maracanã quando já era quase um adolescente, conheci-o pouco tempo depois da fatídica Copa de 1950. Meu pai detestava futebol, meu tio Ulysses Braga, tarado por futebol, foi quem me levou para o Maracanã pela primeira vez, para assistir a um Fluminense e Grêmio que vi como se estivessem diante de mim os times mais famosos da Europa. Tio Ulysses também estava conhecendo o maior estádio de futebol do mundo, e sua emoção traía o irrecuperável torcedor tarado do CRB, o Regatas que toda a minha família alagoana acompanhava muito de perto.
Nessa final agora do Brasileirão, uma rodada de muitos jogos em que todos tinham que começar, recomeçar, continuar e terminar no mesmo segundo, não tive nenhum sossego. Mas não foi por causa do tempo dos jogos. Foi mais por causa do jeito que eles se comportaram. E o “eles” que aqui vão não são os jogadores, todos com muito respeito uns pelos outros.
Paulinho, do Vasco, entrou no lugar de Marlon Gomes que se machucara no joelho, logo no início do jogo. Marlon ainda tentou continuar em campo, mas não deu, teve que desistir. Em menos de quatro minutos, o mesmo Paulinho abriu o placar a favor do Vasco, que se livrava assim da Série B, do rebaixamento.
O futebol é belo e nos surpreende sempre, seja em que circunstância for. Deus me livre de, por causa de eventual fracasso, abandoná-lo de uma vez.