Há anos você não ouve isto: "Anoiteceu / O sino gemeu / E a gente ficou / Feliz a rezar..." É a marchinha de Assis Valente, "Boas Festas", de 1933. Marchas de Natal eram uma tradição no Brasil, tanto quanto as de Carnaval, mas já acabaram há muito. Hoje, por sua singeleza, seriam ridicularizadas como piegas até por crianças de cinco anos.
Nos EUA, onde certos costumes duram séculos, os discos de Natal ainda são grandes vendedores —este ano, os campeões do gênero são os Backstreet Boys e Mariah Carey. É verdade que, nesse quesito, nada superou os anos 1950. Não havia por lá cantor, grupo vocal ou orquestra que um dia não gravasse seu LP de Natal, com o repertório de sempre ("White Christmas", "Silent Night" etc., equivalentes a "Boas Festas") e as indefectíveis capas com o artista em meio a uma decoração de Natal, usando o gorro de pompom ou a fantasia do Papai Noel.
Um livro lançado há tempos, "Os 100 Álbuns Mais Vendidos dos Anos 50", por Charlotte Greig, revelou os maiorais da década em todos os gêneros. Sua fonte não foram as listas fajutas da Billboard, mas os balanços da Associação Americana da Indústria Fonográfica. Segundo ela, nove dos 100 mais foram LPs de Natal.
Oito deles eram de grupos e cantores caretas, como o folclorista Tennessee Ernie Ford, o coral de Mitch Miller e as orquestras de Mantovani, Ray Conniff e Robert Shaw, e os de cantores sérios como Frank Sinatra, Bing Crosby e Johnny Mathis. Não fazia diferença: eram ouvidos por famílias também caretas, ao redor de uma árvore de bolas, comendo peru, tomando vinho rosê e trocando presentes com o tio do pavê.
O surpreendente é o número 1 da lista: "Elvis’s Christmas Album", de 1957, com um Elvis Presley subitamente liberado da pélvis e da rebeldia de rei do rock. Vendeu 7 milhões de cópias —imagino que para 7 milhões daquelas famílias, incluindo o tio do pavê.