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ABL na mídia - Estadão - Economia Minha Conta Giannetti: ‘Risco é querer fazer crescimento a ferro e fogo, como tentou a Dilma. E deu no que deu’

 

O economista e filósofo Eduardo Giannetti avalia que a economia brasileira termina o primeiro ano do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva melhor do que começou. O crescimento será maior do que o previsto, a inflação está dentro do intervalo da meta estabelecida, o desemprego está baixo e houve uma apreciação dos ativos denominados em reais.

“Eu acho que essa é uma grande conquista do ano”, diz. “Reflete muito a virada das expectativas pelo fato de que, num ano em que houve um aumento forte do juros nos Estados Unidos e no mundo, o real se apreciou e se valorizou em relação ao dólar americano”, afirma Giannetti, que contribuiu com o plano econômico de Marina Silva, hoje ministra do Meio Ambiente, nas vezes em que ela disputou a Presidência.

Com o último dado do Produto Interno Bruto (PIB) – alta de apenas 0,1% no terceiro trimestre -, Giannetti diz que um dos riscos na condução da política econômica no ano que vem é a “impaciência”, de “querer fazer o crescimento a ferro e fogo, uma espécie de marcha forçada, como tentou fazer a Dilma. E deu no que deu.”

A seguir trechos da entrevista concedida ao Estadão:

O ano está terminando melhor do que começou. Começamos 2023 com uma inflação preocupante, uma expectativa de crescimento em torno de 1% - ou menos - e muita incerteza sobre o que poderia ser a política econômica durante o governo Lula. Estamos terminando o ano com uma inflação dentro da faixa do intervalo da meta, uma boa expectativa de cumprimento em 2024, um crescimento que foi ao redor de 3% no ano - o triplo do que era previsto -, uma taxa de desemprego baixa e uma taxa de ocupação alta, e os ativos denominados em real estão apreciados. Eu acho que essa é uma grande conquista do ano.

Por quê?

Reflete muito a virada das expectativas ao longo de 2023 pelo fato de que, num ano em que houve um aumento forte do juros nos Estados Unidos e no mundo, o real se apreciou, se valorizou em relação ao dólar americano. Estamos com o real, hoje, num nível que eu diria muito surpreendente. De um modo geral, o saldo do primeiro ano é positivo. Não resolvemos os nossos problemas. Longe disso. Mas atravessamos um ano que parecia muito complicado de uma maneira razoavelmente boa.

Eu acho que são duas as principais conquistas do governo Lula na área econômica. A primeira é a apresentação de um arcabouço fiscal, que não é o ideal, mas que deu uma garantia de que não voltamos para o descontrole que prevaleceu no segundo mandato do Lula e, principalmente, durante o governo Dilma. E, em segundo lugar, a enorme conquista que é a apresentação de uma reforma tributária com a unificação de cinco impostos e o fato de ter sido muito bem conduzida do ponto de vista da negociação política com o Congresso, apesar de todas as concessões que precisaram ser negociadas no caminho.

Mas a previsão para 2024 é de um crescimento menor. Qual é a expectativa do sr. para o próximo ano?

Apesar de termos crescido 3% neste ano, o fato é que nós estamos vivendo uma clara desaceleração do nível de atividade. O número (do terceiro trimestre) mostra que estamos caminhando para uma quase estagnação em termos de crescimento. O mais preocupante desse número do PIB trimestral é o investimento.

O que explica essa desaceleração?

Eu acho que há muitos fatores. O mais evidente se reflete no nível de investimento, que está muito baixo. Agora, por trás disso, paira ainda uma forte incerteza do lado fiscal, quanto ao cumprimento do que foi anunciado em relação ao arcabouço fiscal. Há uma incerteza em relação à constituição tributária que vai prevalecer no Brasil. Para você tomar uma decisão de investimento de longo prazo, precisa ter alguma previsibilidade de qual vai ser o arcabouço tributário que vai incidir sobre a sua atividade. E o fato de que os juros no Brasil, ao longo de 2023, permaneceram extremamente elevados, embora tenham começado a cair nos últimos meses. Mas continuam muito altos.

O sr. não vê como uma preocupação uma eventual tentativa do governo para ampliar os gastos com a desaceleração do crescimento?

Pairam dois grandes riscos em relação à condução da política econômica no segundo ano do governo Lula. O primeiro deles é esse: diante de um crescimento mais baixo, se prevalecer o que parece que está a caminho, uma desaceleração intensa da economia, um risco muito grande é a impaciência, de querer fazer o crescimento a ferro e fogo, uma espécie de marcha forçada, como tentou fazer a Dilma. E deu no que deu.

E como evitar esse risco?

É muito importante a equipe econômica - e acho que ela tem clareza sobre isso - convencer o presidente e prevalecer na sua postura de cautela, de não ceder para buscar um alívio no curto prazo, mas que pode ter consequências muito piores lá na frente.

Eu acho que um grande teste vai ser quando ficar claro no fim do primeiro trimestre de 2024 que a meta de zerar o déficit primário não vai ser cumprida e, portanto, o contingenciamento que está previsto na lei precisa ser implementado. Vai ser o teste de fogo do compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. Nem diria equilíbrio, diria com o controle das contas públicas.

Matéria na íntegra: https://www.estadao.com.br/economia/entrevista-eduardo-giannetti-economia-brasileira-2024/

13/12/2023