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John Gledson é eleito sócio correspondente

 

O ensaísta, crítico literário, tradutor e professor inglês John Gledstone, um dos principais nomes estrangeiros ligados à obra de Machado de Assis, foi eleito na última quinta-feira, 7 dia de dezembro, sócio correspondente da ABL, na cadeira 14, vaga com a morte de Daisaku Ikeda.

Gledstone é doutor pela Universidade de Princeton e professor aposentado de estudos brasileiros na Universidade de Liverpool. Publicou três livros sobre Machado de Assis no Brasil: Machado de Assis: ficção e história (Paz e Terra, 1986)Machado de Assis: impostura e realismo (Companhia das Letras, 2005) e Por um novo Machado de Assis (Companhia das Letras, 2006). Editou três volumes de crônicas e duas antologias de contos do mesmo autor, sendo a mais recente 50 contos de Machado de Assis (Companhia das Letras, 2007). Traduziu diversos livros do português para o inglês, entre eles Dom Casmurro e o livro de contos A Chapter of Hats and Other Stories, de Machado de Assis; Relato de um certo OrienteDois irmãosCinzas do Norte e Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum; Um mestre na periferia do capitalismo, de Roberto Schwarz; e o roteiro do filme Central do Brasil.

Segundo matéria publicada no jornal da Unicamp por ocasião do lançamento da terceira edição de Bons Dias!, reunião de crônicas de Machado de Assis organizada por ele para a Editora da Unicamp,, sobram razões para o reconhecimento de Gledson como um dos grandes especialistas na obra machadiana, entre as quais suas descobertas, o rigor das pesquisas e a peculiaridade de suas leituras do universo machadiano.

Na entrevista, ele diz que Machado gostava muito da liberdade. “Nesse sentido era um liberal. Nada de excepcional nisso – talvez o que caracteriza Machado mais do que nada no sentido ideológico é a consciência aguda que tinha das ameaças que rondavam a liberdade. A começar pelo seu oposto absoluto, a escravidão. Não duvidemos nunca que ele odiava – isto sempre, ao longo da carreira toda – a instituição, e fez o que pôde para lutar contra ela. Isso, entre outros, Sidney Chalhoub mostrou no seu longo ensaio em Machado de Assis, historiador, onde rastreia a atuação de Machado no Ministério de Agricultura, onde fez o que pôde para interpretar a Lei do Ventre Livre a favor do escravo (ou o liberto) em casos concretos. Machado não foi animal político – também não devemos esquecer que havia sempre a ameaça de ataques epiléticos – mas não é verdade dizer que não “fez” nada no sentido de acabar com a escravidão. Leiam Pai contra mãe, escrito anos após a Abolição, e saboreiem o tom, se quiserem apreciar esse ódio. No sentido político, esse gosto pela liberdade se traduziu num monarquismo liberal que, com matizes diferentes, manteve durante a vida toda. Na juventude, como foi mostrado com riqueza de detalhes por Jean-Michel Massa e Raymundo Magalhães Júnior, era até liberal militante, e trabalhava para jornais que apoiavam o partido, eram do partido. O momento crucial talvez seja 1870, quando um grupo de liberais, entre os quais amigos de Machado, separou-se do Partido Liberal para fundar o Partido Republicano. Machado não se juntou a eles – com outros amigos, continuou sendo liberal. Pode até ter sido uma decisão “política” no pior sentido – acabava de ser mantido no seu posto burocrático, apesar da mudança de governo, em 1868 (o “golpe” que resultou na subida dos conservadores ao poder), e era bom ficar quieto. Mas não era: a coerência ideológica já se vê em crônicas dos anos 70 – uma, por exemplo, da série Notas semanais, de 1878, série que eu e a Lúcia Granja vamos publicar daqui a pouco, que conta uma parábola divertida cujo alvo é obviamente o republicanismo, que Machado tachava de simplista, ótimo na teoria, péssimo na prática. Onde a questão aparece com todos os seus aspectos, e até os seus conflitos interiores, é em Bons Dias!, quando a ameaça do fim do regime monarquista é muito grande – e continua na república, quando quase foi denunciado como criptomonarquista (que em certo sentido era).”

 

 

 

11/12/2023