É assim há 60 anos. Desde que o presidente John Kennedy foi assassinado em Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963, há sempre alguém perguntando, inclusive no Brasil: "O que você estava fazendo quando mataram Kennedy?". As respostas variam em autoimportância e solenidade, mas minha favorita é a que envolve Rubem Braga e Otto Lara Resende. Os dois estavam chupando jabuticabas na cobertura de Rubem quando alguém ligou para dar a notícia. Otto quis sair correndo para o jornal, onde, aliás, já devia estar naquele momento, mas Rubem sossegou-o: "Fique frio. O cadáver não vai fugir. E essas jabuticabas estão ótimas."
Naquele dia morreu também Aldous Huxley, um dos escritores mais influentes do século, autor de "Admirável Mundo Novo", e nunca se quis saber o que alguém estava fazendo ao ouvir a notícia. Esse é o problema: quando morrem dois ilustres, o mais famoso faz esquecer o outro. O compositor Sergei Prokofiev, glória da música russa, teve a má sorte de sua morte coincidir com a de, logo quem, seu patrício Josef Stalin, em 5/3/1953. Evaporou-se. A pantera Farrah Fawcett-Majors, idem, com Michael Jackson, em 25/6/2009. Ibidem, Federico Fellini e River Phoenix, em 31/10/1993 —Fellini ficou em 2º lugar. Assim como Yul Brynner e Orson Welles, em 10/10/1985 —Yul ficou em 3º.
Mas houve também absurdos empates. Shakespeare e Cervantes morreram no mesmo 23 de abril de 1616, acredita? Edith Piaf e Jean Cocteau, em 11/10/1963. Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, em 30/7/2007. E as queridas Doris Monteiro e Leny Andrade, no último 24 de julho.
Já a coincidência entre Buddy ("Peggy Sue") Holly e Ritchie ("La Bamba") Valens não vale —os dois tomaram juntos o avião fatal naquele 3 de fevereiro de 1959.
Quanto a mim, estava jogando pelada quando soube da morte de Kennedy. Tinha 15 anos e não me abalei. Pouco depois, fiz um gol contra.