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Mais um Jack na praça

 

Estava demorando. Sarah Box Horton, tataraneta de um policial que participou da caçada a Jack, o Estripador —talvez o mais cruel serial killer da história, se você não contar Bolsonaro—, na Londres de 1888, anunciou ter descoberto a identidade do assassino. Segundo vovô, era Hyam Hyams, um fabricante de charutos que circulava pelas cenas dos crimes.

Jack, como se sabe, é um nome de fantasia. A Scotland Yard nunca identificou o homem que matou seis prostitutas no bairro de Whitechapel, sempre à noite e em vielas ermas, com facadas cirúrgicas nos genitais. E, desde então, há 135 anos, não cessam as especulações. De dez em dez anos, alguém "revela" quem era o Estripador.

Certos suspeitos ficaram tão famosos que têm até torcidas organizadas. Há o sinistro "Avental de Couro", talvez empregado de um dos abatedouros da região; um médico, Dr. Stanley, cujo filho teria morrido de uma doença passada por uma das moças; o dândi Frank Miles, ex-amante de Oscar Wilde e possível modelo para Dorian Gray; o advogado Montague John Druit, acusado de tarado por sua própria família; o barbeiro Aaron Kosminski, que odiava mulheres e acabou num manicômio.

Há até uma mulher entre eles: Mary Pearcey, que, nesse caso, seria Jill, a Estripadora. Mas o mais ilustre ainda é o príncipe Albert Victor, filho do rei Eduardo 7º e neto da rainha Vitória. Ele teria engravidado uma prostituta de quem não se lembrava e precisava se livrar dela, daí os ataques aos úteros e ovários das vítimas. Mas o que um herdeiro da coroa teria a ver com uma profissional da então miserável Whitechapel?

A Yard já se convenceu de que não há provas conclusivas. Em compensação, sempre que um amador afirma ter resolvido o mistério, sabe-se que um livro irá para a lista de best-sellers. O de Sarah Bax Horton, intitulado "One-Armed Jack — Uncovering the Real Jack the Ripper", acaba de sair.

Folha de São Paulo, 17/09/2023