"Elis & Tom", o LP gravado em Los Angeles em 1974, fará 50 anos em 2024. É muito tempo. Em 1974, um disco feito 50 anos antes, em 1924, parecia ter saído da tumba de Tutancâmon. Já "Elis & Tom" soa hoje como se tivesse sido produzido ontem, pela grandeza de Elis Regina e Tom Jobim, a intérprete, o criador, as canções, os arranjos, os músicos, até a quase sensualidade. Como fomos capazes de produzir tanta beleza?
E agora temos "Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você", o documentário de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, que estreia nesta quinta (21) em 100 salas. Se o cinema não fosse regido por outras leis —não sabemos nem se existirá no futuro—, eu diria que ele também será visto em 2074 com a mesma emoção que desperta hoje. Tendo-o assistido por enquanto só uma vez, numa sessão especial na Academia Brasileira de Letras, pensei estar diante do melhor documentário já produzido no Brasil.
Ele trata de tudo que aconteceu antes e durante a gravação do disco que Elis pensava ser dela, com Tom como convidado, e que, para Tom, era o contrário. Fala de velhos rancores entre eles, com Tom, dez anos antes, recusando a novata Elis em um disco e ela, depois de consagrada, esnobando-o e à bossa nova. Da rixa entre Tom, o senhor do universo acústico, e o arranjador Cesar Camargo Mariano, marido de Elis e adepto da eletricidade. E de como, magicamente, os traumas se dissiparam e o disco, que tinha tudo para dar errado, resultou numa obra que transpira amor de cada verso ou de frase da melodia.
Esse mesmo amor transpira de cada fotograma do documentário, que retomou o material filmado em 1974, guardado durante 45 anos, enriqueceu-o com novas imagens e entrevistas e imprimiu-lhe um ritmo que arrebata o espectador. Nunca Tom e Elis foram tão apaixonantes.
Se "Elis & Tom" for indicado para o Oscar, Roberto e Jomico já podem ensaiar o discurso.