Faz bem o presidente Lula de aproveitar a primeira reunião ministerial amanhã para dar um freio de arrumação em seu ministério. Esse novo governo está batendo cabeça em público desde o primeiro dia. É preciso dar uma organizada nessa falação toda, impedir que a empolgação de ter voltado ao poder provoque os estragos que vem provocando.
Não se trata de receio do 'mercado', mas de evitar prejuízos econômicos concretos numa economia de mercado devido a uma palavra mal colocada. E, se ela foi colocada com segundas intenções, pior ainda. Não custa recordar as palavras do economista Gustavo Franco, anos atrás, quando disse:
-Goste-se ou não, o mercado é a forma mais eficiente e influente de expressão da opinião pública, e transparência é tudo quando se trata do funcionamento do mercado.
Para ele, uma coisa é certa:
- Quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção.
Pois os mercados estão reagindo mal a diversas falas de membros do primeiro escalão do novo governo pe-tista, basicamente pelos sinais desconexos que vêm emitindo, mas também por declarações que indicam um governo em que a política partidária superará as diretrizes econômicas. Não tem nenhum sentido, por exemplo, refazer reformas que já foram aprovadas, como a previdenciária e a trabalhista.
Além do mais, o governo não tem maioria no Congresso para mudar nada, mesmo que sejam as leis trabalhistas, que não precisam de reforma constitucional. O que dizer, então, da reforma da Previdência, que precisa de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), com quórum qualificado? A questão é que os ministros Carlos Lupi, da Previdência, e Luiz Marinho, do Trabalho, estão fazendo sua política própria, não a do governo.
Lupi chegou ao cúmulo de afirmar que o sistema previdenciário brasileiro não está quebrado, afirmação já desmentida pelos números. Durante a campanha, o vice-presidente Geraldo Alckmim garantiu, em nome do governo, que não haveria revisão das reformas. Declarações como essas fazem a alegria dos petistas, mas colocam uma pulga atrás da orelha daqueles que, sem serem petistas, votaram em Lula para evitar Bolsonaro.
Essa série de erros para que cada um reinvente a roda deverá arrefecer, mas o governo está batendo cabeça, e a desconfiança sobre o governo Lula não foi dissipada por nenhum dos discursos dos ministros mais importantes. Há até alguns exemplos de que a política se sobrepôs à decisão econômica, como nos subsídios dos combustíveis, em que a presidente do PT, Gleisi HofEmann, superou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Até entendo que, para um governo novo, não apenas o de Lula, cortar o subsídio no primeiro dia seria um perigo para sua popularidade, podendo até mesmo afetar o equilíbrio social, com certos grupos, como os caminhoneiros, reagindo com greves e boicotes. Mas fizeram tudo errado. O ministro Haddad chegou a pedir que o governo Bolsonaro não prorrogasse os subsídios, insinuando que a prorrogação seria uma retaliação ao governo eleito.
Atendidos, agora eles é que prorrogaram, alegando que precisam analisar a situação antes de tomar uma decisão. A tentativa de mudança da Agência Nacional de Aguas (ANA) como reguladora do Novo Marco Legal do Saneamento Básico, causando insegurança jurídica para os que ganharam a licitação do saneamento, foi outra mancada que teve de ser consertada, mas que indica que setores petistas descontentes já começam a tentar impor suas idéias. Todas as desconfianças do mercado, e de quem votou em Lula não sendo petista, estão sendo alimentadas pelos erros do próprio governo.
Os ministros Carlos Lupi, da Previdência, e Luiz Marinho, do Trabalho, estão fazendo sua política própria, não a do governo.