astrobiológico adj. (estudo astrobiológico), astrobiólogo s.m.
Área de pesquisa científica que estuda a origem e a evolução da vida na Terra e investiga a presença de formas de vida no Universo (em planetas, luas, asteroides ou outros corpos celestes com condições propícias para o surgimento de fenômenos biológicos).
[Por vezes chamada de exobiologia.]
“Com o desenvolvimento da tecnologia, uma área específica da ciência vem crescendo exponencialmente e ganhando muita força, a astrobiologia. Tendo seu primeiro projeto em 1959 e seu primeiro programa estabelecido em 1960 (ambos pela NASA), a astrobiologia, desde então, vem se desenvolvendo e já apresenta várias missões, como [a] ‘Viking program’ (1970), ‘beagle 2’ (2003), ‘EXPOSE’ (2008) e a última sendo a ‘mars Science laboratory’ – ‘Curiosity’ – (2012). A astrobiologia é o estudo da origem, evolução, distribuição e futuro da vida no universo, seja na Terra ou em outros planetas, e até em outros sistemas solares. Esta área multidisciplinar faz uso da física, química, astronomia, biologia, biologia molecular, ecologia, geografia e geologia para investigar a possibilidade da existência de formas de vida, no passado e no presente, que comprovem a vida em outros planetas e outros sistemas solares. Meteoroides e asteroides também são alvos de pesquisa, pois, de acordo com a hipótese de panspermia, a vida na Terra pode ter sido trazida por meteoroides que abrigavam formas de vida primária, para isso, são implementadas buscas por indícios de vida nos mesmos, e tais pesquisas já conseguiram detectar matérias orgânicas em algumas amostras.”1
“Do ponto de vista histórico, já na Grécia antiga Epicuro (341-270 a.C) escreveu sobre a questão da vida em outros planetas, enquanto Aristóteles (384-322 a.C) formulou uma teoria para explicar a origem de vida na Terra, baseado nos assim denominados ‘elementos fundamentais da matéria’ e na observação da natureza. No entanto, é difícil determinar com precisão o primeiro uso do termo astrobiologia, que pode se confundir com usos pseudocientíficos como os da ufologia. De acordo com Janet Morrison, primeira curadora dos arquivos do Instituto de Astrobiologia da NASA (sigla em inglês para Agência Espacial Norte-Americana), a primeira referência registrada ao nome astrobiologia é de Lawrence Lafleur em 1941. A conceituação moderna do termo apoia-se nos programas de exobiologia criados durante a corrida espacial entre EUA e União Soviética, no contexto da Guerra Fria (1945-1991). Firmemente embasados nos avanços da tecnologia aeroespacial, permitiram pela primeira vez investigar in situ a possibilidade de vida fora da Terra, através do lançamento de sondas para Vênus e Marte e missões tripuladas para a Lua.”2
“Somos já relacionados com outros seres extraterrestres, caso eles existam; toda vida vem da mesma fonte. Domingo passado, dei a palestra inaugural na Escola Avançada de Astrobiologia de São Paulo, um evento que reuniu cientistas de ponta e alunos de pós-graduação dos quatro cantos do planeta. Minha tarefa era ligar a cosmologia, que estuda a origem e a evolução do Universo, à astrobiologia, que se ocupa da origem da vida na Terra e da possibilidade de vida extraterrestre. Como ponto de partida, é bom lembrar que nós, e qualquer outro tipo de vida que por acaso exista no Cosmo, somos produto da mesma física e química. Nisso, somos já relacionados com outros seres extraterrestres, caso existam. Toda vida vem da mesma fonte. As criaturas vivas são aglomerados de moléculas capazes de criar cópias de si mesmos. Como moléculas são coleções de átomos, e átomos são feitos de prótons, nêutrons e elétrons, a vida precisa, como ingredientes essenciais, das partículas de matéria que preenchem o Cosmo.”3
“Para a astrônoma Diana Paula Andrade, do Observatório do Valongo, da UFRJ, a descoberta de fosfina em Vênus é marco importante na astrobiologia, mas a especulação sobre vida ainda é prematura. A cientista recorda como exemplo a descoberta de metano (molécula de carbono e hidrogênio) em Titã, lua de Saturno. – Essa descoberta causou alvoroço em 2007 na comunidade cientifica. Ficaram especulando se não poderia ser algum organismo que liberava metano – conta. – Mas quando começaram a estudar melhor Titã, a gente viu que o metano saiu de processos geológicos mesmo. É o ciclo de hidrocarbonetos de Titã que faz esse metano ir para a atmosfera. Não é necessário usar um micro-organismo para explicar o metano de Titã. A astrônoma conta que a busca de fosfina é um alvo já consolidado na astrobiologia, e o aparecimento de substância em um estudo sobre Vênus não é uma surpresa total.”4
“A vida é provavelmente o mais fascinante fenômeno da história do nosso – quiçá de qualquer – Universo. Sabemos que ela surgiu pelo menos uma vez, aqui na Terra, mas as evidências sugerindo que ela pode ser um processo comum em outras partes do cosmos só começaram a se empilhar no século 21. A missão da nascente ciência de astrobiologia é justamente dar conta de colocar a vida nesse contexto mais amplo. Para isso, um fator fundamental é compreender como exatamente substâncias simples progridem até gerar moléculas capazes de se autorreplicar e passar por evolução darwiniana. Nos últimos cem anos de pesquisas sobre nossas próprias origens, encontramos várias pistas. Famoso, por exemplo, é o experimento Urey-Miller, de 1953, que produziu a partir de compostos simples vários aminoácidos – moléculas orgânicas que servem como tijolos básicos das proteínas. Desde então, diversos outros experimentos parecidos conseguiram mostrar os incríveis malabarismos que moléculas simples fazem para compor química complexa, dadas as condições apropriadas.”5
“Resta então a derradeira pergunta: sendo a física e a química comuns em todo o Universo, será também a biologia? Pode o surgimento da vida na Terra ter sido fruto de um improvável acidente ou a atividade biológica, com toda sua rica complexidade, se manifestar sempre que as condições são favoráveis? Quais exatamente são essas condições? Com que frequência elas são atendidas? Que diferentes mundos podem abrigá-las e qual é a extensão de seu alcance pelo Universo afora? Essas são algumas das perguntas a que se propõe a responder a novíssima ciência da astrobiologia, que nas últimas décadas deixou de ser mero exercício de especulação para se firmar como uma das áreas mais promissoras da investigação científica no século XXI.”6
“No atual estágio de entendimento científico da biologia, é muito difícil desenvolver estudos sobre uma forma de vida muito diferente da que conhecemos na Terra, não na aparência em si, mas em seu funcionamento molecular. Dessa maneira, a astrobiologia se baseia fortemente na compreensão da vida na Terra como modelo para a vida extraterrestre. Segundo a própria Nasa, o termo ‘astrobiologia’ não foi criado em 1998 (Blumberg, 2003), mas já vinha sendo usado em diferentes contextos, desde a década de 1940, sendo seu primeiro uso na língua portuguesa registrado em 1958, quando o biólogo paulista Flávio Augusto Pereira escreveu um livro intitulado Introdução à astrobiologia. Antes do termo ‘astrobiologia’ se consolidar, com a fundação do instituto da Nasa, diversos grupos e associações já vinham utilizando os termos ‘exobiologia’, ‘bioastronomia’ e ‘cosmobiologia’ que, apesar de estarem, hoje, caindo em desuso, ainda são encontrados com significados muito similares ao da atual astrobiologia (Rodrigues, 2012). O termo ‘astrobotânica’ também foi usado ao longo da história, uma vez que se acreditava, no início do século XX, que as plantas seriam as formas de vida mais resistentes e os candidatos mais prováveis a habitarem outros planetas.”7
ASTROBIOLOGIA. In: ISTITUTO TRECCANI. Enciclopedia Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/enciclopedia/astrobiologia. Acesso em: 20 set. 2022.
ASTROBIOLOGY. In: BRITANNICA. Disponível em: https://www.britannica.com/science/astrobiology. Acesso em: 26 out. 2022.
ASTROBIOLOGY. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/astrobiology. Acesso em: 29 set. 2022.
ASTROBIOLOGY. In: OXFORD UNIVERSITY PRESS. Oxford Learner’s Dictionary. Disponível em: https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/definition/english/astrobiolo.... Acesso em: 29 set. 2022.
EXOBIOLOGIE. In: LE ROBERT DICO EM LIGNE. Le Robert. Disponível em: https://dictionnaire.lerobert.com/definition/exobiologie. Acesso em: 29 set. 2022.
1 BRAGA, Igor. Astrobiologia e a missão Curiosity. Instituto de Microbiologia Paulo de Góes UFRJ. Informes da Graduação. Graduação. Disponível em: https://www.microbiologia.ufrj.br/portal/index.php/pt/graduacao/informes.... Acesso em: 27 set. 2022.
2 ALABI, Leticia P.; SANTOS, Charles Morphy D. Astrobiologia e a importância da busca por vida extraterrestre. Jornal Biosferas, fev. 2013. Artigos: Educação. Disponível em: http://www1.rc.unesp.br/biosferas/Art0061.html. Acesso em: 27 set. 2022.
3 GLEISER, Marcelo. As quatro eras da astrobiologia. Folha de S.Paulo, s.d. Ciência. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/15496-as-quatro-eras-da-astrob.... Acesso em: 28 set. 2022.
4 O GLOBO COM AGÊNCIAS E NYT. Cientistas encontram possível evidência de vida extraterrestre em Vênus. ‘Fiquei estupefata’, diz astrônoma. O Globo, 14 set. 2020. Saúde. Ciência. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/ciencia/cientistas-encontram-possivel-evi.... Acesso em: 28 set. 2022.
5 NOGUEIRA, Salvador. Entenda em 3 minutos: o que é astrobiologia? Superinteressante, 16 ago. 2022. Ciência. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/entenda-de-uma-vez-o-que-e-astrobiolo.... Acesso em: 28 set. 2022.
6 GALANTE, Douglas; SILVA, Evandro Pereira da; RODRIGUES, Fabio; HORVATH, Jorge E.; AVELLAR, Marcio G. B. de. Astrobiologia – Uma ciência emergente. Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia – Universidade de São Paulo (USP), 2016. Disponível em: https://www.iag.usp.br/astronomia/sites/default/files/astrobiologia.pdf. Acesso em: 29 set. 2022.
7 Idem, ibidem.