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ABL em defesa da democracia

 

Academia opõe-se a práticas ofensivas à liberdade de expressão, à diversidade étnica e de gênero

Sem se envolver na política partidária, pois sempre evitou isso, nos seus 125 anos de fecunda existência, a Academia Brasileira de Letras lançou uma nota pública, por intermédio do seu presidente Merval Pereira, em que revela o seu compromisso em defesa da democracia e o seu repúdio à tentativa de enfraquecê-la. Opõe-se a práticas ofensivas à liberdade de expressão, à diversidade étnica e de gênero. Infelizmente, o que se tem visto é o uso indevido da religião em campanhas políticas e o exercício lamentável do obscurantismo, quando o ideal seria o apoio à ciência, à preservação ambiental e à inclusão social.

Acadêmico há 36 anos, hoje orgulhoso vice-decano da ABL, lamentamos o pouco caso devotado à cultura brasileira e os desserviços prestados à educação, cujos recursos são oficialmente minguados. É uma prioridade às avessas, deixando as gerações futuras numa triste orfandade. Temos um grande número de analfabetos, muitos jovens sem escolas e sem empregos (a chamada geração nem-nem) e universidades que, sem verbas prometidas, correm o risco do fechamento. Tudo isso conduziu o país a um momento delicado, o que levou a ABL, praticamente de forma unânime, a emitir essa nota pública, de enorme repercussão.

Forças democráticas (felizmente ainda existentes) têm se manifestado contra os dragões da maldade e da fome, além do uso desmesurado e irresponsável de fake news. Não é possível aceitar esses problemas de forma passiva. Já fomos o país do futuro.

Como educador, há certas questões que são essenciais. Por isso, elaborei um 'Decálogo da Educação', que submeti aos políticos de plantão. São 10 projetos para incrementar e dar qualidade à educação brasileira, em todos os níveis e que batizei com os nomes de educadores inesquecíveis: Projeto Heloísa Marinho, que tem como campo de atuação as creches e a educação infantil; Carlos Flexa Ribeiro (educação elementar); Josué de Castro (alimentação escolar); Esther Figueiredo Ferraz (educação à distância); Valnir Chagas (ensino médio); Newton Sucupira (ensino técnico-profissional); Darcy Ribeiro (formação do magistério); Cecília Meirelles (educação e cultura); Anísio Teixeira (tempo integral e ensino Superior); Roquette-Pinto (recursos para a educação).

Seguramente, se essas prioridades forem respeitadas, podemos comemorar a existência de novos e memoráveis tempos na educação brasileira.

O Globo, 25/10/2022