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ouvintismo

Classe gramatical: 
s.m.
Palavras relacionadas: 

ouvintista adj.2g. s.2g. (comportamento ouvintista)

Definição: 

1. Discriminação e preconceito contra pessoas surdas, com base no padrão da capacidade de ouvir.

2. Prática que consiste em conferir a pessoas surdas tratamento desigual (desfavorável ou exageradamente favorável), baseando-se na crença equivocada de que elas são menos aptas às tarefas da vida comum.

[Ocorrem também os termos audismo e surdismo.]

Exemplos de uso: 

“Para entender o conceito de ouvintismo, precisamos partir da noção de que o mundo foi construído por e para pessoas ouvintes. Nesse cenário, é como se pessoas surdas e com deficiências auditivas não fossem consideradas por suas identidades, como se enxergam dentro da comunidade, e sim entendidas como ‘não ouvintes’. É como se elas estivessem erradas ou fossem inferiores por não ouvirem. O ouvintismo entende o mundo a partir da percepção da pessoa ouvinte, e de como ela encara as situações e ambientes ao seu redor. Nessa lógica, a pessoa surda é o elemento que não se encaixa, que está fora do padrão socialmente aceito. Sendo assim, precisam a qualquer custo se tornar ouvintes em potencial, passando pelo processo da oralização, aprendendo leitura labial e se adequando à comunicação oral.”1

“[Carlos] Skliar (1998, p. 15) introduziu o termo ‘ouvintismo’ como: ‘... um conjunto de representações dos ouvintes a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte. Nessa perspectiva é que acontecem as percepções do ser deficiente, do não ser ouvinte, percepções que legitimam as práticas terapêuticas’. [Gladis] Perlin (1998, p. 58) o retoma como ‘ouvintização’ ao analisar as formas de alienação de pessoas surdas por estereótipos de surdos reproduzidos na sociedade.”2

“As identidades surdas de transição estão presentes na maioria dos casos de surdos filhos de ouvintes. Eles cresceram com a ideia da oralização ou do ouvintismo, justamente por causa dos familiares ouvintes, depois tiveram a experiência da Língua de Sinais. O momento de transição acontece aí, eles aos poucos vão se identificando com a comunidade surda, mas ‘embora passando por essa des-ouvintização, os surdos ficam com sequelas da representação que são evidenciadas em sua identidade em reconstrução nas diferentes etapas da vida.’ (PERLIN, 1998, p. 64).”3

“Tanto as novas compreensões assumidas sobre a Surdez como as velhas visões e posturas ouvintistas exercem forte efeito normatizador sobre os sujeitos. ‘Ouvintismo’ ou ‘surdismo’, as práticas e os discursos que daí decorrem vinculam-se a normas específicas, que exercem sobre o indivíduo – de forma muito ou pouco sutil – interferências coercitivas. A própria ideia de cultura e comunidade surda também se desdobra em processos de ajustamento, conformação e pulverização das diferenças individuais. Daí a negação, neste blog, de entender ‘normalização’ como processo perpetrado exclusivamente por forças ouvintistas. O que se evidencia aqui é a ação homogeneizadora, de apagamento cultural e achatamento de possibilidades imposta por ideologias audistas hegemônicas: põem-se em questão, sobretudo, as medidas de neutralização e anulação da diferença sob a força de práticas e discursos dominantes.”4

“O ouvintismo na família pode se expressar sob várias formas: não saber como tratar e relegar ao abandono, a negação, não aceitando a diferença e até impondo a norma ouvinte como modelo ou a superproteção, com apego exagerado ao filho surdo, com medo de expor a criança à difícil vida fora de casa [...].”5

“O contexto histórico de ouvintismo e audismo, antes, durante e depois dos 100 anos do Congresso de Milão, em 1880, tem sido narrado em livros, pesquisas e artigos escritos por ouvintes, mas, nesse trabalho, busquei inovar apresentando o olhar surdo sobre esse processo por meio da arte surda, um movimento estético que, por um lado, busca denunciar a exploração, a colonização do ouvinte, a sua tentativa de retirar a cultura surda e a língua de sinais de suas obras e, por outro, reforçar a atitude surda de resistência e luta.”6

Referências: 

AUDISM. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/audism. Acesso em: 28 ago. 2022.

AUDISM. In: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/audism. Acesso em: 28 ago. 2022.

AUDISMO. In: ACADEMIA DELLA CRUSCA. Parole Nuove. Disponível em: https://accademiadellacrusca.it/it/parole-nuove/audismo/18495. Acesso em: 28 ago. 2022.

1 GALA, Ana Sofia. Ouvintismo e o preconceito contra as pessoas surdas. Hand Talk, 28 jul. 2022. Blog. Disponível em: https://www.handtalk.me/br/blog/ouvintismo/. Acesso em: 28 ago. 2022.

2 SKLIAR, Carlos; QUADROS, Ronice. Invertendo epistemologicamente o problema da inclusão: os ouvintes no mundo dos surdos. Estilos da Clínica, v. 5, n. 9, 2000. Dossiê. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/268273268.pdf. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v5i9p32-51. Acesso em: 28 ago. 2022. 

3 Santos, Elias Souza dos. Cultura escolar e inclusão. Comunidade surda: a questão das suas identidades. In: DÍAZ, F., et al. (org.). Educação

inclusiva, deficiência e contexto social: questões contemporâneas [online]. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 14-25. ISBN: 978-85-232-0928-5. Disponível em: https://books.scielo.org/id/rp6gk/pdf/diaz-9788523209285-02.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022.

4 EIJI, Hugo. A luta contra o ouvintismo. Cultura Surda, s.d. Disponível em: https://culturasurda.net/audismo-ouvintismo/. Acesso em: 28 ago. 2022. 

5 BRITO, Fernanda Martins de. Professora surda e intérprete de Libras no ensino superior: relações, papéis e referências em sala de aula. Universidade Federal do Paraná. Tese de Mestrado. Curitiba, 2019. Disponível em: https://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConclusaoWS?idpessoal=5.... Acesso em: 28 ago. 2022.

6 Idemibidem.

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