Capacidade natural do cérebro de se adaptar e modificar ao longo da vida do indivíduo, construindo novas conexões entre neurônios ou alterando suas funções, em resposta a estímulos diversos. [A neuroplasticidade é o que possibilita, por exemplo, a recuperação de funções perdidas em pessoas com danos cerebrais ou o aprendizado de uma nova língua.]
“Um neurônio sozinho não faz verão. Cada um está ligado, quimicamente, a milhares de outros. Por meio dessa teia de ligações, os impulsos nervosos são transmitidos de uma célula para outra do cérebro. ‘A maquinaria cerebral é a mais complexa de todo o Universo’, diz o neurologista Ciro da Silva, da Universidade de São Paulo. ‘Entendendo o funcionamento de uma célula do fígado conhecemos as outras’, diz Silva. ‘Mas, no cérebro, cada uma funciona de um jeito.’ Felizmente, porém, nosso cérebro é equipado com um superpoder chamado neuroplasticidade: ele tem uma capacidade impressionante de se adaptar. Ele cria novos ‘caminhos’ e conexões capazes de suplantar as redes danificadas – é exatamente com a neuroplasticidade que conta uma pessoa que sofreu dano cerebral, quando reaprende habilidades que tinha perdido.”1
“Trata-se de uma gigantesca capacidade de mudança da estrutura e do funcionamento neural, em resposta a demandas do ambiente. É a neuroplasticidade que permite o fortalecimento molecular das sinapses (os contatos físicos entre os neurônios) quando é necessário memorizar alguma informação. É essa propriedade também que forma novas sinapses, novos neurônios, e até novos circuitos de longa distância, ou então os extingue temporária ou permanentemente quando necessário. Importante notar que a dinâmica da neuroplasticidade é própria da estrutura do cérebro, e não apenas do processamento de informações que ele realiza. Mudanças no hardware, e não apenas no software.”2
“Não entenda errado: continua sendo verdade que, após infartos ou lesões traumáticas, os neurônios perdidos não são regenerados. Terapias com células-tronco, em vias de pesquisa e teste, são uma possibilidade de repor esses neurônios com ajuda externa e assim contar com mais matéria-prima para a recuperação do tecido. Mas muito pode ser feito sem essa eventual ajuda externa. Tudo mudou a partir da constatação de que os neurônios que permanecem no cérebro, após lesões, têm uma enorme capacidade de assumir novas funções, ou seja, de se reorganizar funcionalmente. Essa capacidade de reorganização é a tal da neuroplasticidade: uma característica intrínseca dos neurônios de se adaptar eternamente ao uso que fazemos deles. Assim melhoramos naquilo que fazemos e aprendemos novos conceitos, idiomas, instrumentos musicais, caminhos em outras cidades, maneiras de lidar com as pessoas. E assim também conseguimos reorganizar o próprio cérebro em caso de demanda.”3
“Segundo [Marcelo] Leite, a indução da neuroplasticidade é uma das hipóteses para explicar o efeito terapêutico de psicodélicos como ayahuasca em seres humanos – ‘novos circuitos, memórias sendo reprocessadas ou criadas, abertura de janelas para romper o círculo de fixação dolorosa de ideias’. Para ajudar os leitores a entender algo que é relativamente complexo, o jornalista lança mão, por vezes, de uma analogia entre o cérebro e os serviços de streaming e televisão por assinatura: ‘As novas conexões entre neurônios equivaleriam a retomar o acesso perdido aos canais variados – comédia, romance e aventura, por exemplo, em vez de só drama, guerra e biografias sofridas’.”4
“Ao nascimento, tanto o SNC [sistema nervoso central] quanto o sistema ocular são ainda imaturos, sendo necessárias experiências visuais para que ambos se desenvolvam. Assim, os primeiros anos de vida da criança são considerados períodos críticos para o desenvolvimento da visão, e as experiências visuais vivenciadas são fundamentais para a formação e o fortalecimento das conexões cerebrais responsáveis pela visão (GAGLIARDO; NOBRE, 2001, GAGLIARDO, 2003). Nessa direção, Langone, Sartori e Gonçalves (2010) afirmam que durante o período crítico, período de maior vulnerabilidade para o desenvolvimento do SNC, há grande influência da neuroplasticidade, que é induzida pela interação entre fatores genéticos e experiências ambientais.”5
NEUROPLASTICITÀ. In: ISTITUTO TRECCANI. Enciclopedia Treccani. Disponível em: https://www.treccani.it/vocabolario/neuroplasticita_res-47195b20-89da-11...(Neologismi). Acesso em: 21 jul. 2022.
NEUROPLASTICITY. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/neuroplasticity. Acesso em: 21 jul. 2022.
1 REDAÇÃO SUPERINTERESSANTE. Os neurônios se regeneram? Superinteressante, 7 fev. 2018. Ciência. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/cada-neuronio-sabe-muito-bem-sua-funcao/. Acesso em: 21 jul. 2022.
2 LENT, Roberto. Aí vêm os computadores neuromórficos. O Globo, 22 abr. 2022. A hora da ciência. Disponível em: https://oglobo.globo.com/blogs/a-hora-da-ciencia/post/2022/04/ai-vem-os-.... Acesso em: 21 jul. 2022.
3 HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Uso forçado e neuroplasticidade. Folha de S.Paulo, s.d. Equilíbrio. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/33596-uso-forcado-e-neuropl.... Acesso em: 21 jul. 2022.
4 MINUANO, Carlos. A incrível saga da ciência psicodélica. Quatro cinco um, 1 maio 2021. Divulgação científica. Disponível em: https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/divulgacao-cientifica/a-inc.... Acesso em: 21 jul. 2022.
5 BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes de estimulação precoce – Crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, 2016. Disponível em:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_estimulacao_crianc.... Acesso em: 21 jul. 2022.