s.m.
1. Denominação dada às bactérias (como os lactobacilos e as bifidobactérias) a que se atribui a capacidade de equilibrar a microbiota intestinal e atuar no eixo intestino-cérebro, trazendo benefícios para o sistema nervoso. [O psicobiótico é um tipo de probiótico.]
2. Alimento, suplemento alimentar ou fármaco composto de certa quantidade dessas bactérias, por vezes usado como terapêutica coadjuvante ou tratamento alternativo de depressão, estresse, ansiedade e outros transtornos psíquicos.
adj.
3. Que contém essas bactérias ou estimula sua multiplicação no intestino. [O kefir, por exemplo, é um alimento psicobiótico.]
“Nesse sentido, traz esperança a descoberta dos psicobióticos, os probióticos com efeitos no sistema nervoso. Falamos de uma classe de bactérias com grande potencial no tratamento de doenças psiquiátricas, capazes de controlar sintomas sem eventos adversos.”1
“No entanto, ainda não existe consenso entre os especialistas sobre qual é a dose adequada do psicobiótico a ser consumida para obter benefícios sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro. De qualquer forma, já temos evidências de que a suplementação de cepas específicas com essas propriedades poderá beneficiar pessoas que sofrem de estresse crônico, ansiedade, depressão e outros transtornos psíquicos.”2
“Ora, no fundo todo mundo experimentou o que a Medicina chama de eixo cérebro-intestino. Você até já deve ter sentido na carne o que estou falando – talvez uma cólica fisgando o ventre em um momento de nervosismo, um abdômen queimando de preocupação. Ou, quem sabe, em certo dia se viu embrulhado de tanta tristeza. Nos quadros psiquiátricos para valer, essas reações tendem a se tornar mais intensas. ‘Todos eles dão sintomas gastrointestinais, como náuseas e diarreias’, observa o psiquiatra Kalil Duailibi, professor da Unisa (Universidade Santo Amaro), em São Paulo. O aparelho digestivo parece ter de engolir as nossas emoções e, acredite, a recíproca é verdadeira: os quase 40 trilhões de micro-organismos que habitam o nosso intestino produzem substâncias que, de um jeito ou de outro, afetam a nossa saúde mental, criando então uma via de mão dupla. Essa constatação, que é muito recente para a ciência, descortina uma nova possibilidade no tratamento de transtornos como estresse, ansiedade, depressão e outros. E, na rotina do consultório, os psiquiatras já começam a lançar mão dela, receitando psicobióticos, que nada mais são do que suplementos de micro-organismos vivos capazes de afetar o funcionamento do sistema nervoso central.”3
“Os probióticos que têm ação sobre o sistema nervoso são chamados de psicobióticos. Estudos têm mostrado que algumas bactérias, tal como os lactobacilos e as bifidobactérias, têm efeitos benéficos sobre a saúde mental.”4
“Estudos apontam, por exemplo, que suplementos contendo cepas de Lactobacillus helveticus R0052 e de Bifidobacterium longum R0175 têm mostrado efeitos benéficos na redução do estresse e da ansiedade. Suplementos desse tipo foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas, atenção, pois o uso de psicobióticos exige cautela. É preciso lembrar que esses produtos não substituem medicamentos antidepressivos e, além disso, devem ser utilizados com prescrição e orientação de médicos ou nutricionistas. Os transtornos mentais são um desafio global que se tornou ainda mais preocupante com a pandemia de covid-19. Segundo um estudo da revista ‘The Lancet’, houve em 2020 uma alta de 28% nos casos de depressão, o que significa que o número de novos casos registrados superou a estimativa em 53 milhões. Já a ansiedade ultrapassou as projeções em 26%, isto é, houve mais de 76 milhões de casos adicionais. Os psicobióticos surgem como uma estratégia adicional no enfrentamento desse problema.”5
“O termo ‘psicobiótico’ foi criado na Universidade College Cork, na Irlanda, onde a professora Kirsten Berding busca entender a ligação entre a microbiota intestinal e o cérebro humano por meio de estudos clínicos. Para ela, no futuro usaremos psicobióticos como terapia suplementar para pessoas com depressão. É preciso ter cuidado, contudo, ao usar a comida como único tratamento para o humor. Para doenças mentais, é importante procurar tratamento médico.”6
“‘A influência dos micróbios em nossa saúde mental não está mais em discussão’, diz Jane Allyson Foster, cujo laboratório na Universidade McMaster, no Canadá, lidera pesquisas nessa área. E isso significa que podemos curar o cérebro através de nossa barriga. ‘Há o potencial tanto para o desenvolvimento de novos tratamentos quanto para a medicina de precisão.’ Foster destaca que um intestino não saudável é apenas uma das muitas possíveis causas de doença mental. Em outras palavras, apenas uma parcela dos pacientes vai responder bem aos novos tratamentos ‘psicobióticos’. Mas para aqueles que sofrem de um desequilíbrio em suas bactérias intestinais, as novas terapias podem trazer um alívio muito necessário.”7
“A novidade é que cientistas e laboratórios farmacêuticos estão começando a desenvolver os chamados psicobióticos: produtos contendo uma ou mais espécies de micro-organismos, escolhidos de acordo com seus supostos efeitos sobre o cérebro. Em 2014, quando o termo foi cunhado pelos biólogos John Cryan e Ted Dinan (os autores daquele estudo pioneiro da Universidade de Cork), a plataforma PubMed, que compila as principais publicações médicas do mundo, registrou apenas cinco estudos científicos sobre o assunto. No ano passado, foram 55. Há dezenas de startups farmacêuticas tentando desenvolver tratamentos a partir da microbiota. E várias delas, como as americanas Evelo Biosciences, Axial, Finch Therapeutics e Kallyope (que tem Bill Gates entre os investidores), são focadas em psicobióticos: estão testando tratamentos contra ansiedade, autismo, enxaqueca e Parkinson.”8
1 WAITZBERG, Dan. Psicobióticos: uma nova alternativa para garantir a saúde mental. Veja Saúde, 16 nov. 2020. Mente Saudável. Disponível em: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/psicobioticos-uma-nova-alterna.... Acesso em: 10 maio 2022.
2 Idem, ibidem.
3 HELENA, Lúcia. A era dos psicobióticos: o uso de bactérias para melhorar a saúde mental. Uol, 29 out. 2020. VivaBem. Blog da Lúcia Helena. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2020/10/29/a-era-dos.... Acesso em: 10 maio 2022.
4 SANTOS, Teresa. Psicobióticos: mente e microrganismos vivos. Invivo, 29 mar. 2022. Saúde. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/psicobioticos-cerebro/. Acesso em: 10 maio 2022.
5 Idem, ibidem.
6 BBC. Por que cuidar do intestino pode beneficiar seu humor. G1, 2 jun. 2021. Bem Estar. Viva Você. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/viva-voce/noticia/2021/06/02/por-que-cuida.... Acesso em: 21 maio 2022.
7 BBC. Como seu intestino pode ajudar seu cérebro. G1, 30 mar. 2019. Ciência e Saúde. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/30/como-seu-intesti.... Acesso em: 21 maio 2022.
8 GARATTONI, Bruno; BRUM, Mauricio; LISBOA, Silvia. Psicobióticos: os remédios feitos de bactérias que prometem tratar ansiedade e depressão. Superinteressante, 20 maio 2022. Saúde. Disponível em: https://super.abril.com.br/saude/os-psicobioticos/. Acesso em: 21 maio 2022.