Em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o ciclo "Brasil Moderno" chegou à sua quarta semana de palestras. No total, serão seis palestras promovidas pela Academia Brasileira de Letras, através do pensamento de importantes nomes da cultura brasileira. As conferências, que são gratuitas, buscam traçar um paralelo entre a Semana e os dias atuais. Na quinta-feira, dia 7 de abril, o escritor Julio Ludemir falou de um dos maiores compositores da música popular brasileira na palestra "Pixinguinha vai à Europa”. Ele afirmou que o grande debate do modernismo gira em torno da identidade nacional, que não existe sem levar em consideração a questão negra. Na palestra, foram abordados quatro eixos temáticos. O primeiro tratou-se do grande sucesso que foi a geração de músicos da pequena África, da qual o Pixinguinha é o maior nome. O segundo abordou o quanto Pixinguinha e os Oito Batutas, conjunto do qual ele e Donga fizeram parte, dialogaram com o Brasil antes mesmo dos ditos modernistas. Outro eixo fundamental, segundo Julio, é que o modernismo brasileiro, o clássico, foi construído em Paris em um diálogo dos artistas pensadores brasileiros com as vanguardas do início do século passado. O escritor também falará da negrofilia, um culto à negritude, que está por trás da obra dos dadaístas e de Picasso, por exemplo.
- A viagem de Pixinguinha à França fez com que ele desenvolvesse as mesmas estratégias antropofágicas que caracterizaram o modernismo clássico. Os músicos negros foram determinantes para a criação de uma trilha sonora que deu origem à música popular mundial e, também, à música popular brasileira. Foi em Paris, no bairro de Montmartre, que Pixinguinha aprendeu o instrumento que mudaria a vida dele para sempre, que é o saxofone. O Pixinguinha e o Donga foram os primeiros músicos a levar o jazz para o Brasil, formando suas próprias bandas. Eles criam as bases daquilo tudo que determina o que a gente entende de Brasil e estabelecem, ainda, uma relação com o mundo no mesmo período que os modernistas - ressaltou.
O ciclo se estenderá durante o restante do mês de abril, às quintas-feiras, sempre às 17h30. Para se inscrever, é necessário acessar um link que será disponibilizado no site da ABL semanalmente. O evento é realizado no Teatro Raimundo Magalhães Jr, com capacidade para até 288 pessoas. A entrada no teatro é permitida mediante apresentação da carteira de vacinação com o esquema de imunização completo da Covid-19. Também é possível acompanhar o ciclo por transmissão ao vivo pelo Portal da ABL ou pelo YouTube, neste link.
Ministrada pelo Acadêmico e poeta Antonio Carlos Secchin, o ciclo de palestras teve início no dia 17 de março, com o tema “Memória e Desmemória da Semana de 22”. O objetivo foi destacar os possíveis equívocos e mitos que giram em torno das memórias relacionadas à Semana de Arte Moderna e dar luz à veracidade dos fatos. No dia 24 de março, o ciclo teve sequência com a conferência "Trópicos Utópicos", ministrada pelo economista Eduardo Giannetti, recém-eleito para a ABL, que teve como intuito apresentar o espírito da afirmação modernista que se inaugura na Semana de 22. Já na quinta-feira, 31 de março, a cineasta Carla Camurati abordou as mulheres à frente de seu tempo na palestra "De Pagu a Carlota Joaquina”.
Integrando o ciclo no mês de abril, mais dois conferencistas farão parte da programação: O músico e compositor Gilberto Gil, no dia 14, falará da influência da Semana no movimento artístico de que fez parte em "Antropofagia e Tropicália". O ciclo se encerra no dia 28 de abril com a palestra "Mário e Oswald - É tudo para hoje", do músico, compositor e ensaísta, José Miguel Wisnik.
"O ciclo Brasil Moderno tem um pé no passado, outro no presente e até mesmo um terceiro pé, se é que possível pensar, no futuro. Nos tempos atuais, temos uma luta muito movida pelo desejo de regressão. Então, eu acho que é muito oportuno fazer isso hoje. A gente lança a esperança de que um dia seremos modernos outra vez", afirma o Acadêmico Geraldo Carneiro, coordenador do evento. As palestras têm, ainda, coordenação geral do Acadêmico e Primeiro Secretário Joaquim Falcão.
A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação artístico-cultural que ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo entre os dias 13 a 18 de fevereiro de 1922. O evento reuniu diversas apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras - pintura e escultura - e palestras. Os artistas envolvidos propunham uma nova visão de arte, a partir de uma estética inovadora inspirada nas vanguardas europeias. Juntos, eles buscavam uma renovação social e artística no país, evidenciada na "Semana de 22". O evento chocou parte da população e trouxe à tona uma nova visão sobre os processos artísticos, bem como a apresentação de uma arte de identidade mais brasileira.
Programação do ciclo de conferências Brasil Moderno
17/03: Memória e Desmemória da Semana de 22 - Acadêmico Antonio Carlos Secchin
24/03: Trópicos Utópicos - Eduardo Giannetti
31/03: De Pagu a Carlota Joaquina - Carla Camurati
07/04: Pixinguinha vai à Europa – Julio Ludemir
14/04: Antropofagia e Tropicália – Gilberto Gil
28/04: Mário e Oswald - É tudo para hoje - José Miguel Wisnik
Serviço
Local: Teatro Raimundo Magalhães Jr.
Endereço: Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro
Horário: 17h30
Entrada gratuita