A decisão do governador do Rio Grande do Sul de permanecer no PSDB, em vez de aventurar-se numa candidatura à Presidência da República pelo PSD, implica também aceitar a decisão do partido de ter o governador João Doria como seu candidato oficial. A não ser que até junho, quando os partidos envolvidos na negociação para um candidato único que possa derrotar Bolsonaro e Lula se decidirão, Doria não tenha saído da posição secundária em que aparece hoje na pesquisa eleitoral do instituto Datafolha.
Eduardo Leite, por sua vez, terá de aparecer na mesma pesquisa à frente de Doria para poder reivindicar o apoio de seu partido. Se conseguir isso, mesmo tendo deixado o governo do Rio Grande do Sul, terá argumentos para se impor à maioria do partido, que continua sob o controle de Doria. Terá atingido duas das três metas acordadas para a definição do candidato único: estar melhor na pesquisa e ter mais capacidade de aglutinação.
Restaria a terceira, em que Doria se diz mais bem posicionado: condições de enfrentamento com Bolsonaro e Lula nos debates eleitorais. Ambos os governadores têm boa gestão para mostrar durante a campanha presidencial. Mas, tanto para Doria quanto para Leite, há mais um obstáculo à frente, a candidatura do ex-juiz Sergio Moro, que nega a possibilidade de se retirar da corrida presidencial para se candidatar a uma vaga de deputado federal ou de senador com a intenção de obter foro privilegiado.
“Não tenho o menor interesse em ter foro privilegiado, instituto que sempre repudiei”, me garantiu. Moro se considera o nome mais competitivo da terceira via, “apesar de inúmeros ataques”. Cita dados do Datafolha, que o apontam como tendo maior potencial de voto e menor rejeição que Lula, Doria e Bolsonaro. Como já disse outras vezes, Moro não teria nenhum problema em desistir da disputa em favor de um nome mais competitivo, já que anuncia que seu objetivo principal é salvar o país de Lula/Bolsonaro. Mas não vê racionalidade em trocar “um candidato de até 10 % na pesquisa Datafolha, por alguém empacado em 1 ou 2 %, que agora ainda vai perder o holofote do cargo de governador de São Paulo”.
É interessante como os candidatos usam a margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Moro aparece com 8% na mais recente Datafolha e destaca que pode estar hoje com 10%. Doria está com 2%, e pode chegar a 4%, mas Moro usa para baixo a margem de erro. O governador de São Paulo põe Moro com 6%, caindo.
Moro e Doria têm o mesmo obstáculo, que pesa mais para o ex-juiz: pouca capacidade de agregar apoios partidários. Doria conseguiu a federação com o Cidadania, que dá mais credibilidade que votos, mas não tem o apoio integral dos tucanos. Moro não conseguiu montar nenhuma coligação partidária, embora continue conversando com o União Brasil. Em compensação, Doria tem mais prática no debate político que Moro para enfrentar os dois favoritos. Terá de subir nas pesquisas e convencer seus parceiros de que este é um trunfo seu.
Moro, mantendo-se a atual situação ou crescendo nas pesquisas, terá um trunfo maior para apresentar. Ambos sonham ter a senadora Simone Tebet como vice, mas podem se surpreender com o crescimento dela durante a campanha, até junho. Tebet quer dar tempo a Doria, para que se mostre competitivo ou desista. Além de não ser certo que esses candidatos cheguem a um acordo sobre uma candidatura única, há a situação especial de Moro e Ciro Gomes.
Os dois aparecem nas pesquisas emparelhados, com vantagem numérica para Moro — 8% contra 6% — e têm condições de continuar na corrida presidencial sem apoio dos demais candidatos. Como todos concordam que Lula já está no segundo turno, Ciro é o que mais terá dificuldades. Na prática, é uma via própria, mas que tem em Lula um obstáculo quase intransponível. Sua chance é tornar-se alternativa de voto útil para parte da esquerda e do centro. Moro pode ser o voto útil da direita na reta final do primeiro turno, com capacidade de tirar votos de Bolsonaro.